Arquivo mensais:janeiro 2009

Entrevista sobre WTC BABEL S. A.

foto: marcelo terça-nada!
foto: marcelo terça-nada!

Foi bacana o lançamento do livro, ontem. Pessoas que admiro vieram me ver falar o poema mais longo que já fiz, desde das infimidades. Para agradecer, coloco aqui uma entrevista comigo mesmo, respondendo algumas perguntas que me tem sido feitas por esses dias.

O que deu em você para escrever sobre geo-política?

Não escrevi sobre geopolítica. Meu poema é sobre a incomunicabilidade num mundo onde o capitalismo, com seus anúncios publicitários e os manipuladores meios de comunicação propagam o desentendimento, a superficialidade, o canibalismo psíquico. Através de um mecanismo sutil, mantém-se milhões de seres humanos na condição de robozinhos de controle remoto.

Não quero a geopolítica. Quero a geopoética. Devolver às palavras seu sentido integral, como queria confúcio.

Mas nada disso importa. Poesia é quando você precisa falar e não há outra forma de dizer aquilo que sentepensa, que feelthink. Mesmo que o que você disse diga: nada.

Você acha que as milhares de pessoas que morreram no WTC mereciam ter morrido ali? Você é a favor daquele acontecimento?

Alguém a não ser o George W. Bush acha isso? Se acha, é melhor vigiar essa pessoa. você conhece? É seu vizinho? Toma cuidado…

No fundo no fundo todos querem alcançar o céu?

Claro. É por isso que se constrói prédios. Um andar em cima do outro até que um dia ele chega lá. Deus não gosta muito disso. Já tentou até confundir, certa vez, uma turma de pedreiros fazendo com que eles não se entendessem. Cada um tenta à sua maneira. Tem uns que querem o nirvana. Tem quem queira o céu aqui. Tem quem queira achar um atalho. Mas no fundo no fundo, todo mundo. É o princípio do prazer, do Freud. Não venha me dizer que você não!?

Eu estava ouvindo sua gravação no MySpace e fiquei confuso. No texto que acompanha o livro, María José Pedraza Heredia fala que o poema é para ser gritado. Mas no MySpace parece que é uma versão sem grito, bem descafeinada. Como isso se dá?

O grito é dentro. “Meu sertão é metafísico”.

Você disse que esse poema já contém muito do seu projeto pessoal. Mas é inevitável achar ali um fundinho de Ginsberg e dos beats.

Gosto muito da poesia de Ginsberg, mais do que dos beats. E a pegada ginsberguiana combina com o tema, não acha? Em realidade, acho o WTC BABEL S. A. muito diferente de tudo o que Ginsberg faz, com outro ponto de vista e outro tipo de rebeldia. Mas me orgulho da referência. Aliás, não só Ginsberg, mas muitos outros poetas são homenageados e reverenciados no meu poema. A começar por Walt Whitman, que homenageio e critico ao mesmo tempo. Tem também o Antonin Artaud, que tem uma visão política que gosto muito e que, de certa forma, compartilho. E mais Maiakovski, Waly Salomão, os poetas do grupo poesia hoje (do qual participei entre 2004 e 2006). Renato Negrão, comentando comigo sobre o poema, me lembrava de algo que eu não tinha me dado conta. Ele me dizia: “tem muito de Marcelo Companheiro nesse poema. Coisa que só uma pessoa como eu, que já te conhece há anos consegue perceber”. Acho que o Renato foi modesto não citando a si mesmo como influência. Tem também o Chacal, o Fausto Fawcett, o Juan Gelman. E tudo está muito escancarado, com um verso ou uma palavra conhecida de cada um deles. Afinal, trata-se de uma grande colagem. São referências, mas na verdade o poema é a minha cara. Só espero que ninguém vicie. Acho que não encontrarão mais Ginsberg em outros trabalhos meus.

Agora temos Barack Obama no governo dos Estados Unidos. O que você pensa disso?

Eu acho maravilhoso. Felizmente, com o passar do tempo, as coisas mudam. Há muitas maneiras de se pensar a política hoje. E uma delas é do ponto de vista das relações interraciais. É claro que raça é um conceito falso, e por isso temos que ficar atentos com os limites dessa dicotomia (aliás, toda dicotomia é perigosa e limitada). Mas como diz o poema, “essa é a época dos presidentes pop”. Era injusto o páreo entre McCain e Obama. Obama é um sujeito bonito, elegante, diplomático, inteligente. Transformou-se muito rapidamente num ícone da esperança mundial. Um perfeito presidente pop. Eu, pessoalmente, penso que ele passaria facilmente por um parente meu. Me orgulho. Politicamente, restam ainda muitos pontos obscuros. A dicotomia democratas versus republicanos é inquietante pelo tamanho da sua limitação. O mínimo que espero de um republicano é que ele seja democrata e vice versa. Vejamos primeiro o que o novo presidente dos Estados Unidos fará com os seus 300 milhões de loucos de ficção científica.

deu hoje no hoje em dia

Leonardo Gonçalves mescla poesia e geopolítica

Alécio Cunha
REPÓRTER

Nesta segunda-feira, o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, tem seu último dia de poder na Casa Branca. No dia seguinte, toma posse o democrata Barack Obama, primeiro presidente negro a ocupar este cargo. O poeta belo-horizontino Leonardo Gonçalves, tradutor de Juan Gelman, William Blake e Molière, aproveita o último instante de Bush na presidência norte-americana para lançar um livro-bomba.

A plaquete “WTC Babel S.A”, publicada pelas Edições Barbárie, será lançada segunda, às 19 h, na sede da Cia. da Farsa (Rua dos Caetés, 616. Centro), com direiro à performance “No Fundo Todos Querem Alcançar o Céu”, gestada pelo poeta numa interação entre texto, voz e imagens.

Os versos deste livro foram elaborados no decorrer do ano passado e são uma provocante reflexão sobre os rumos da nação dita mais poderosa do planeta, sobretudo após a explosão do World Trade Center, em Nov a Iorque, e a reação bélica promovida por George W. Bush e seus asseclas, invadindo o Afeganistão e o Iraque.

“Eu cresci vendo imagens fortes da Segunda Guerra Mudial, fotos de corpos no Holocausto nazista, da carnificina nos campos de batalha. Estra nhei a ausência de corpos no World Trade Center. Houve censura, nenhum corpo foi mostrado. Priorizou-se a imagem da explosão, do choque dos aviões, a força do simulacro, longe do real, bem próxima da sociedade do espetáculo”, frisa Gonçalves.

O incômodo gerou o longo poema, que começa remetendo o leitor ao universo onírico de Walt Whitman, poeta criador de uma linguagem fundante da literatura norte-americana, em textos como “Eu Canto o Corpo Elétrico”: “americanos cantam o corpo elétrico/e quem cantará o corpo eletrônico bytes bits pixels? qual ciborgue tomará a palavra no terceiro milênio?já existem as máquinas de pensar/e quem fabricará a máquina de fazer poemas?’, indaga o autor.

Influenciado principalmente pelos versos livres, pulsantes e, claro, essencialmente políticos da cena beat norte-americana, em especial, Allen Ginsberg, autor de “Uivo’ e “A Queda da América”, Leonardo Gonçalves está muito satisfeito com o resultado desse livro. “Há um trabalho muito cuidadoso com a linguagem, está bem mais evoluído do que trabalhos anteriores meus”, afirma.

“WTC Babel S.A” deve ser lido como um contundente grito de protesto contra os abusos ocorridos na política do presidente George W. Bush. “É o resultado de experimentações formais, um poema híbrido, repleto de imagens do mundo contemporâneo, que vão da sátira mordaz ao mais vivo apelo por um mundo mais human”, salienta Gonçalves.

O poeta conta que escreveu este livro já pensando em sua estrutura verbal, sem, em nenhum momento, deixar de lado a preocupação com a palavra escrita. “Eu elaborei o livro imaginando como seria seu tempo exato de leitura”, frisa, assumindo a sempre desejável conexão entre o oral e o escritural.

Entusisasta da obra de Leonardo Gonçalves, o crítico literário Fábio Lucas (“Mineiranças”, ‘Do Barroco ao Moderno”) assim se expressou sobre os versos potentes do autor de 33 anos. “ É um poema-apelo a clamar pelos olhos abertos e pelos ouvidos atentos, a fim de bem colher as imagens do mundo cruel, travestido em boletim publicitário. A linguagem multicentrada em vários idiomas representa valiosa sátira da subcultura globalizada, que ensina o culto de bezerros-de-ouro plantados nos recantos do planeta”, escreve.

Leonardo Gonçalves não esconde sua postura cética diante da entrada em cena, a partir de terça-feira, do novo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. “Foi uma grande conquista no plano simbólico, mas não podemos nos esquecer que ele continuará governando os mesmos milhões de americanos que, um dia, votaram em Bush”, frisa. “Os Estados Unidos são uma nação puritana e é falsa a idéia que eles vendem de que lá é a terra da liberdade. Não existiu durante o governo de George W. Bush o direito pleno às liberdade individuais”, salienta, lembrando o episódio nefasto das torturas na prisão de Guantamano.

Num dos poemas mais instigantes de seu livro, Leonardo Gonçalves mostra como seus versos podem estar em plena sintonia com o mundo: ‘eu canto o fundo falso/eu sou o fundo falso/eu sou a fechadura/ e a chave do mistério divino/eu sou o mistério divino/por isso canto o corpo histérico/e rebolados das groupies desvairadas/enlouquecidas por minha saliva/que espalho sobre o chão do terreiro/e inauguro com elas/o meu próprio mistério/pois é mister cantar”, assegura o autor, consciente de que lirismo e contundência não são vocábulos excludentes neste planeta.

release: lançamento do livro WTC BABEL S. A. de leo gonçalves

O poeta belorizontino Leo Gonçalves lança nesta próxima segunda-feira, dia 19/01 às 19h o seu poema WTC BABEL S. A., com apresentação da performance “no fundo todos querem alcançar o céu” e noite de autógrafos

Primeiro livro do selo “Edições Barbárie”, WTC BABEL S. A. será lançado na próxima segunda-feira. No ato do lançamento, o poeta Leo Gonçalves apresenta a performance “no fundo todos querem alcançar o céu” e em seguida, haverá noite de autógrafos. O evento acontece na Cia. da Farsa (Rua Caetés, 616 – Centro)

WTC BABEL S. A., poema que dá título ao livro (lançado em formato plaquete), é um contundente grito de protesto contra os abusos ocorridos na política do presidente George W. Bush (que estará cumprindo nessa segunda-feira o seu último dia de mandato). Resultado de experimentações formais feitas por Leo Gonçalves, WTC BABEL S. A. é um poema híbrido, repleto de imagens do mundo contemporâneo, Imagens que vão da sátira mordaz ao mais vivo grito por um mundo mais humano.

Comenta o crítico mineiro Fábio Lucas: “WTC BABEL S. A. é um poema-apelo a clamar pelos olhos abertos e pelos ouvidos atentos, a fim de bem colher as imagens do mundo cruel, travestido em boletim publicitário. A linguagem multi-centrada em vários idiomas representa valiosa sátira da subcultura globalizada, que ensina o culto de bezerros-de-ouro plantados nos recantos do planeta”.

Para o Ato de lançamento, o poeta aposta na força da palavra falada e prepara a perfornance “no fundo todos querem alcançar o céu”, na qual ele falará o poema acompanhado de sua parafernália visual.

Leo Gonçalves (33 anos) é poeta, tradutor e ensaísta. Autor do livro “das infimidades”, vem publicando em diversos jornais e revistas do Brasil. Traduziu a comédia “O doente imaginário” de Molière (livro que teve sua segunda edição em 2008 pela editora Crisálida), o livro de poemas “Canções da Inocência e da Experiência” de William Blake (em parceria com Mário Alves Coutinho e também publicado pela editora Crisálida, 2005) e o livro “Isso”, do poeta argentino Juan Gelman (em parceria com Andityas Soares de Moura, publicação da editora UnB, 2004).

O lançamento ocorrerá no espaço da Cia. da Farsa, companhia de teatro dirigida por Alexandre Toledo. Situado na Rua Caetés, 616, no centro da cidade, o espaço promete excelentes acontecimentos culturais para o ano de 2009.

Orelha do livro:
“Se o “poema falado” não é um conceito novo, com WTC BABEL S. A., Leo Gonçalves inaugura o “poema gritado”. Através de um hábil manejo da língua (ou das línguas), elabora uma ácida e irônica crítica ao governo norte-americano. Crítica que serve como eixo a mover os fios de um mundo desbaratado. Rebela-se diante deste mundo inventado e desafia também a métrica, através de um texto cujo único fim é o de mover o leitor-ouvinte, que a partir desse mesmo instante se converte em protagonista do poema que, em essência, não é outra coisa senão uma manifestação clara e corajosa do amor pela vida acima de tudo”. (María José Pedraza Heredia)

Serviço:
Lançamento do livro WTC BABEL S. A.
Local: Cia. da Farsa – Rua Caetés, 616 – Centro
Dia 19 de janeiro de 2009 às 19h

contatos:

leo gonçalves: 31 9824 5939
jéssica gonçalves: 31 8463 1269

A ciência parcial da palavra

O livro Com/posições de Juan Gelman, foi publicado em 2007 pela editora Crisálida, em tradução de Andityas Soares de Moura. Além dos poemas que Juan publicou sob esse título, o livro traz também uma entrevista que o poeta concedeu a mim e ao Andityas na ocasião do lançamento do livro Isso (no início de 2005), publicada originalmente no Suplemento Literário de Minas Gerais e disponível aqui no Salamalandro. Em setembro de 2006, no dia exato do lançamento de Com/posições, escrevi esse artigo que permaneceu inédito, mas que na minha opinião, passado todo o tempo que você pode contar, continua atual.

A ciência parcial da palavra

Leonardo Gonçalves

É possível que nunca o tema da Torre de Babel tenha surgido com tanta força como na atualidade. Vivemos num mundo onde as fronteiras não impedem o contato entre pessoas de diferentes nações e idiomas. A tecnologia digital nos possibilita uma aproximação que nenhum fabricante de lentes ou telefones jamais pôde supor. Essa proximidade tem algo de Babel, pois ao mesmo tempo em que se comunica, também se incomunica. E o próprio ato de comunicar-se, transforma-se facilmente em tormento, em desacerto, em erro.

Babel, de acordo com o Gênesis, significa “confusão”. O castigo para a audácia humana. A incomunicabilidade como punição para que o homem se disperse pelo mundo. No entanto, somos testemunhas de que a variedade lingüística não é empecilho para a comunicação. Os amantes, os internautas e os poetas sabem disto muito bem. E o contrário também acontece: pessoas de um mesmo idioma muitas vezes se compreendem mal. Os políticos, as famílias e muitos leitores de poesia conhecem isso de perto.

Se não é o idioma que separa a compreensão da incompreensão, haverá algo que o determine? Continue lendo A ciência parcial da palavra