Arquivo mensais:julho 2009

Fabiana Cozza – Quando o céu clarear

Show de abertura da turnê Quando o céu clarear, de Fabiana Cozza em Belo Horizonte

Depois do entusiasmo que tive no ano passado, ao ver o show Mo gbe orisa com Fabiana Cozza brilhando no palco da sala Juvenal Dias, eu tive a sorte de ir a quase todas as suas passagens por BH. Quando escrevi algo sobre ela, na ocasião, a promessa de uma apresentação no Grande Teatro do Palácio das Artes em setembro acabou por não cumprir-se. Mas ouvi da boca de um caboclo que para o orum não há tempo. E aqui está Fabiana abrindo a turnê “Quando o céu clarear”.

Ela é a dona de uma das vozes mais poderosas que se viu neste país tão privilegiado de belas vozes. Acrescente-se aí o axé e a sedução que se instalam na sua presença, tudo dentro de um show que é ao mesmo tempo lírico e dançante. Um concerto desses não se pode perder.

Show da turnê “Quando o Céu Clarear”, de Fabiana Cozza com participações de Sérgio Pererê e Mauricio Tizumba
Data e horário: 29 de julho (quarta-feira), às 20 horas
Local: Grande Teatro do Palácio das Artes (av. Afonso Pena, 1.537, Centro)

Para mais informações:
BEBOP Comunicação & Cultura
(31) 3224-1251

Para ouvir:
www.myspace.com/fabianacozza
www.fabianacozza.com.br
www.fabianacozza.blogspot.com

Para ler a matéria publicada dia 11 de julho no Estadão:
www.estadao.com.br

Céu inteiro – Ricardo Aleixo

ceu-inteiro: ricardo aleixo

Céu inteiro é o livro de constelações lançado por Ricardo Aleixo em novembro do ano passado. Terceira publicação da coleção Elixir, edição primorosa lançada com os auspícios de Flávio Vingoli e impressa na gráfica do Matias. Céu inteiro já é, com certeza, uma raridade e eu tenho a sorte de ter nas minhas mãos o meu exemplar autografado.

Ricardo avisa na introdução: “Este pequeno conjunto de lipogramas que compus ao longo de 2007 foi desentranhado de um projeto mais amplo, intitulado Modelos Vivos“. Diz também que este será lançado em breve. Não conheço ainda os Modelos. Tampouco sei o que são lipogramas. Sei que Céu Inteiro é um livro de constelações. E constelações para quê servem? Ora, para ver os signos.

Constelações tipográficas nos remetem imediatamente a Stéphane Mallarmé, que, às vésperas da era do offset (finais do século XIX), se esforçava para não “presumir o futuro” que daquelas esletras sairia. Um lance de dados jamais aboliria o acaso. Hoje, em plena era digital, época em que poucos tipógrafos se dão o trabalho de compor um livro, publicar algo nesses moldes é um desafio. No futuro de Mallarmé, a visualidade é um ruidoso mundo que já não depende de tintas.

Mas o Ric não cai no concretismo fácil, como é ampla tendência, de mestre a aprendiz, na poesia brasileira. Esse Céu é diversão garantida para leitores aficionados por nuances sígnicas, apelos de todo tipo à senso/rialidade do ouvido livre. Um céu inteiro em a – e – i – o – u. Festas: frestas. Onde a orelha fala e a boca escuta (como queria Valéry). Onde cada mínimo sinal ou signo minimal te acena com jorros de plurissignância. Vale a pena seguir a sugestão de “estraçalhar o tempo” para desfrutar.

O som e o sentido – José Miguel Wisnik

o som e o sentido - uma outra história das músicas, livro de josé miguel wisnik

Mais um livro para a minha estante de cabeceira. José Miguel Wisnik está afiadíssimo nesta “outra história das músicas”. Há muito tempo sou um leitor apaixonado de histórias da música. Apesar disto, costumo me aborrecer com a tediosa e repetitiva eurocentrização do som. Daí a surpresa deste livro.

Publicado pela primeira vez em 1989, O som e o sentido mostra um pouco das concepções primordiais do som em cada cultura. O som (organização arbitrária em cada povo) entendido como antítese de ruído, a organização do sentido em meio ao caos sonoro reinante no planeta. Som – palavra. Sonho sentido.

Interessante a distribuição temática do assunto: ao dividir a história da música em períodos em que reinam o Modal, o Tonal e o Serial, Wisnik produz um efeito de ecos no qual a história da música deixa de ser uma mera descrição do passado e se transforma numa verdadeira presentificação dos infinitos sons que circulam pelas mentes e ouvidos do mundo atual.

Em tempos de alta circulação de arquivos sonoros pelo planeta (com apoio de youtubes, emules e rapidshares), a sugestão é não se ater à simples (porém necessária) audição do cd que vem junto com o livro, mas acompanhar a leitura com a audição aprofundada de cada som sugerido. Pigmeus do Gabão ou os gamelões de Bali, as escalas de microtons indianas e árabes, as pentatônicas da economia política chinesa e africana, sem falar nas maravilhas da era tonal e pós-tonal.

A música modal é a ruidosa, brilhante ritualização da trama simbólica em qua a música está investida de um poder (mágico, terapêutico e destrutivo) que faz com que a sua prática seja cercada de interdições e cuidados rituais. Os mitos que falam da música estão centrados no símbolo sacrificial, assim como os instrumentos mais primitivos trazem a sua marca visível: as flautas são feitas de ossos, as cordas de intestinos, tambores são feitos de pele, as trompas e as cornetas de chifres. Todos os instrumentos são, na sua origem, testemunhos sangretos da vida e da morte. O animal é sacrificado para que se produza o instrumento, assim como o ruído é sacrificado para que seja convertido em som, para que possa sobrevir o som.

(…)
O mundo é barulho e é silêncio. A música extrai som do ruído num sacrifício cruento, para poder articular o barulho e o silêncio do mundo. Pois articular significa também sacrificar, romper o continuum da natureza, que é, ao mesmo tempo silêncio ruidoso (como o mar, que é, nas suas ondulações e no seu rumor branco, freqüência difusa de todas as freqüências). Fundar um sentido de ordenação do som, produzir um contexto de pulsações articuladas, produzir a sociedade significa atentar contra o universo, recortar o que é uno, tornar discreto o que é contínuo. (José Miguel Wisnik)

Fronteiras da pele, o novo livro de poemas da Ana Maria Ramiro

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Fronteiras da pele é o resultado de um projeto iniciado em Brasília e que levou dois anos para ser concluído. Em grande medida, é fruto de várias interferências diretas e indiretas: visuais, sonoras e pessoais, que acabaram influenciando o direcionamento que dei ao trabalho no tratamento com a linguagem.
(…)
Espero que o leitor consiga sentir o ritmo da respiração, o eriçar dos pelos, as pulsações e o movimento dos órgãos contido em cada um desses entes-poemas.

Ana Ramiro (www.girapemba.blogspot.com)

Ana Ramiro acaba de publicar seu novo livro de poemas. Fronteiras da pele sai pela Lumme editor, numa coleçãozinha que já conta com outras belezuras. Confira.

rodrigo vai embora com os bailarinos

rodrigo

A morte de Rodrigo de Souza Leão, hoje pela manhã me deixou pasmo. Durante esta semana, o falecimento dos bailarinos mais badalados do planeta, Michael Jackson e Pina Bausch (cada um no seu pas de bourré) me deixou surpreso. Mas saber que um jovem de 43 anos, no auge da sua cri/atividade, com seu “Todos os cachorros são azuis” recebendo prêmios e críticas nos quatro cantos da língua, que se correspondia com deus e o Brasil afora via email, boa gente em sua simplicidade ativa, poeta bom assim na prosa como no verso, saber que o Rodrigo intenso como um Leão se foi tão cedo dói na carne.

Rodrigo não dará Ibope suficiente para que a imprensa noticie sua despedida. Mas você pode ler os comentários de Cássio Amaral, Claudio Daniel, Ademir Assunção, Rodrigo Garcia Lopes, Marcelo Sahea , Virna Teixeira, entre os muitos que fizeram sua homenagem a ele pela bloguesfera afora.

Pulso
(Rodrigo de Souza Leão)

O pulso pulou
Pra fora do bolso

A veia fétida
Da erupção

Elevou-me
Ao Éden

Que no mármore
Fique

Fincado
Um desepitáfio