Arquivo mensais:abril 2011

Festival Literário de Votuporanga

Começa hoje e vai até o dia 1º de maio o Fliv – Festival Literário de Votuporanga. Tive a honra de participar da curadoria, em parceria com o Clube de Autores. Os bate-papos serão exibidos ao vivo via facebook. Não é necessário estar inscrito para acessar a página. Você pode acompanhar as notícias do evento no: www.flivotuporanga.com.br

Uma semana de muita literatura com a seguinte programação:

25/04 às 20h

Ignácio de Loyola Brandão

26/04 às 17h30

Luiz Roberto Guedes e Lourenço Mutarelli

27/04 às 17h30

Frederico Barbosa e Ricardo Aleixo

28/04 às 15h

Fabrício Carpinejar

29/04 às 17h30

Ana Rüsche, Andrea Catropa e Estrela Leminski

30/04 às 17h30

Katia Canton

01/04 às 15h

Maurício Kubrusly

Um poema de Anderson Almeida

Guerra

Para Leo Gonçalves

Você para –
e se depara
com o guepardo.

Fogo nativo,
na noite
ativo.

Você para –
e o guepardo
repara.

Suas fibras
sem grades
se compassam.

Nas patas,
a pausa
se aperta.

Nos pés,
o passo
passa.

A espádua,
a espada
do guepardo.

A sua,
o olhar
crispado.

Ele dispara
e você, calado,
só encara.

(Seu corpo,
do medo,
isolado.)

Você, quieto,
ao seu embalo
se iguala.

Ele, solto,
a você imóvel
se equipara.

O respeito
mal resvala
a face felina

e o ataque,
cedo certo,
desanima,

e o anteparo
dessa ruga
lhe ampara.

A fera
se equipa
de cautela

e a estátua
em suas patas
se hospeda.

.

II

Outra arma
entre os dois
se aloja.

Fogo-falo,
contra a noite
feito fraco,

a distância,
a armadura
dessa arma.

O abuso
dessa ajuda
os ultraja

e o guepardo
se vira
contra a besta,

que de lá
já aponta
para a fera.

(Fulo,
você folia
por sua guerra.)

O guepardo,
ora irado,
se destaca –

predador
que voa
como pedra.

O estalo
do tiro
não o abala:

ele dispara
a si
contra a bala.

Anderson Almeida (1977), poeta belorizontino, foi premiado em vários concursos de poesia e não publicou nenhum de seus livros. Participou recentemente do livro Intervalo, respiro, pequenos deslocamentos – ações poéticas do Poro. Considero-o um dos mais consistentes da minha geração e para mim é uma imensa honra ter um poema dele dedicado a mim e honra tão grande quanto esta é poder publicá-lo aqui no Salamalandro. Valeu Anderson!

um poema

Orpheu fala


não. nossa falta
não foi olhar para trás:

burlamos o jogo
safamos num salto

fugidos do inferno
fugidos, enfim.

ninguém cogitou
vir atrás de nós

fugir pro vazio
faz bem às crianças?

os olhos se abriram
depois da grande fuga?

ouvimos ao relento
as vozes mortais

o mundo-ruído
favelas cidades diachos

eurídice, eu disse
a gente não quis?

rumo às estrelas?
morarmos com elas?

não. não foram as mênades
foi o sinal de menos –

nos olhamos desertos
à beira do rio

estarrecidos embevecidos
das horas do amor

e aqui restamos
oca pedra cantante

enquanto o vento a morte
a noite e a tempestade

não cessam de passar por nós.

*

(para a p.)

Sexta passada na ZIP

A ZIP / Zona de Invenção Poesia & estava incrível. Uma exposição de poemas-cartaz com alguns dos melhores poetas das gerações vivas, uma interessante mostra de vídeo-poemas, poesia visual, bons livros. Pela noite, presenças memoráveis, conforme você poderá ver no blogue do Ricardo Aleixo e no flyer abaixo.

Quanto a mim, tive a honra de reinaugurar e amadurecer um pouco a performance POEMACUMBA, agora com cenário concebido pela artista plástica Michelle Campos. A instalação Comida de Santo, feita com hóstias. Veja na foto um dos lindésimos de segundos em que  evoquei os nkisis para que a sala se mantivesse em estado de poesia.

Espero pronunciá-los outras vezes.