Daniela Andújar e outras personas

Nunca vi Daniela Andújar. A conheci pelas vias virtuais. Leitora do Salamalandro, me mandou um recado lá pelos últimos anos de Roberto Piva, quando lancei por aqui um apelo para os que quisessem/pudessem colaborar com alguma grana para que o poeta pudesse cuidar da saúde. Ela pedia para avisar aos dele que havia reunido uns amigos e depositado algum montante na conta que divulguei aqui.

Desde então, vez por outra mantemos contato por e-mail. Só em 2011 é que descobri que Daniela Andújar é uma portenha para lá de original. Assina aqui ali como Roberta Arta e outros heterônimos. Das coisas que ela gosta (até onde sei), inclui-se proferir com sua voz de gitana as palavras da sua poesia, que ela reúne na performance Poeticazo, ao lado de amigos, às vezes percussão, às vezes guitarra ou o que vier.

Daniela Andújar vive no Guarujá, mas tem passado os últimos meses em Buenos Aires. Navegou pelos cinco mares, andou pela Itália, Andalucia, nas suas palavras andou fundando agrupações sambapunk de poesia e ritmo como “Manifesto Escoria, ou Deus”, “Ser o no Res”, mesclando poesia, dança, música e entusiasmo. Sua expressividade delirebelde resulta na palavra Manifesto, ou, melhor ainda: ManiFesta.

A LA VIDA HAY QUE DES-$IFRARLA, ela e suas muitas personas gritam com um pedal chorus ligado no máximo.

Recebi pelo correio há alguns meses um pacote repleto de coisas: o livro Dengue, que traz o subtítulo: “poesia para extender o império dos sentidos e bombardear o império dos sentados”. No pacote também havia outras coisas. Convite para a performance-rapp que rolou el viernes 29 de outubro de algum ano passado, com o lançamento desse mesmo livro. Como invocados espciais: Oswald de Andrade e Allen Ginsberg. E mais um folheto com o poema (ou pameo ou peoma) “serviço de morte obrigatório”. E mais um cd com suas palavras gritadas contra a moral e os bons costumes. E mais um poema de Paco Urondo “La verdad es la única realidad” e mais e mais, num desdobrar de repalavreamentos que botariam James Joyce de cabelo (ou carne) em pé.

A poesia eléctrica táctil cardíaca bombachuda inflamable de Daniela Andújar, uma cidade caótica onde se perder. Para conhecer um pouco do que ela faz, é lá no: www.danielaandujar.blogspot.com

*

Deixo com vocês uma palhinha colhida no blog dela com tradução minha:

Anocheself

O dia nasceu noctâmbulo
querendo nascer amanhã
não hoje
o dia de hoje se desnasce
pretende abaixar o sol
soprá-lo
até empurrá-lo
e que ele caia to
d
o

pelo horizonte e se es
t
r
e
l
e

[El día nació noctámbulo
con ganas de nacer mañana
no hoy
el día de hoy se desnace
pretende agachar el sol
soplarlo
hasta empujarlo
y que se caiga to
d
o

por el horizonte.

y se e
s t
r
e
ll
e]

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