Entrevista com Janaína Moreno

Janaína Moreno vai gravar seu primeiro disco e procura investidores. Entrou num sistema crowdfunding para arrecadar fundos. A coisa é simples e já bem conhecida por quem usa internet: você colabora e se torna apoiador(a) com algum dinheiro através do site e fica por dentro do processo de feitura, ganha um cd autografado, conversa com a cantora. Para fazer seu cd, ela e a produtora C2 chamaram o produtor baiano Luiz Brasil e o disco promete vir bonito e com surpresas.

[Para conhecer mais do projeto e colaborar, clique aqui.]

Quem já viu um show da Janaína Moreno sabe da energia que rola. Cantora com voz potente, bota a plateia para sambar sem dó. Vive rodeada de músicos incríveis e aproveita muito de seus quitutes de atriz, mãe e dama sedutora. Difícil sair de um show dela sem um sorriso imenso na cara.

Nascida em Belo Horizonte, foi uma das principais cantoras do projeto Samba da Madrugada, invenção do Miguel dos Anjos, Mestre Jonas, Dudu Nicácio e outros bambas de lá. Se mudou para o Rio de Janeiro em 2009 ao se sair vencedora no concurso Novos bambas do velho samba, organizado pela casa noturna Carioca da Gema, na Lapa. O crítico musical Sérgio Cabral a definiu como uma cantora “cheia de bossa e brasilidade”. Vem dividindo palco com grandes mestres da música brasileira: Alcione, Monarco e o saudoso Walter Alfaiate foram apenas alguns.

Nas idas e vindas, entrou como cantora num barco transatlântico, circulou por alguns países africanos, mergulhou um pouco mais nas culturas matrizes de seu samba, que mistura ritmos brasileiros como o coco, o maracatu, jongo, calango, congo e muitos mais.

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A Jana é pessoa das mais queridas para o Salamalandro. Me concedeu uma pequena entrevista em 2008, quando seu projeto estava no começo. Agora, mais que nunca, chegou o momento.

Por que Festeira? Como surgiu o nome?

Tive a necessidade de dar um nome e conceituar este trabalho solo quando fui selecionada para o concurso “Novos bambas do velho samba” que é uma realização tradicional do Bar Carioca da Gema e queria que meu show falasse da minha trajetória até então e que fosse honesto com meu momento de carreira. Foi então que começamos (eu, Andreza Coutinho e o Miguel dos Anjos) a pensar num nome que abarcasse tudo o que buscávamos. Festeira sou eu, mesmo. Uma festeira de mão cheia. Minha música “Festeiro” já sugeria o nome, mas snão foi o mais importante. O fundamental é que festeira é um adjetivo que retrata bem a mim e ao show. Misturo ritmos de festejos populares com o samba e o show se torna uma grande festa!

O que surgiu de novo com a experiência de cantar no Rio de Janeiro?

Tantas novidades! No Carioca da Gema eu tive a oportunidade de fazer o show de abertura de personalidades do samba como, por exemplo, Monarco, Wanderley Monteiro, Walter Alfaiate, Moacyr Luz, Tia Surica dentre outros. Além de colaborar com a minha pesquisa de novos sambas. Ouvi sambas que nem imaginava algum dia conhecer. O trabalho de observação destes que levam o samba como filosofia de vida, e com muito fundamento, me alimentou ainda mais de respeito. O samba é realmente muito generoso e eu lhe devo muito respeito. Com toda esta vivência, um amadurecimento do show foi algo natural. Mas ainda temos muito pra crescer.

Você é uma cantora que insere muito de sua experiência como atriz no palco. Como é isso para você?

Acredito numa arte que transforma o ser humano. Parece meio esotérico o que vou dizer: a arte tem poder de cura. a música transforma o ambiente, o deixa mais feliz, mais triste. Manipula-se com a arte várias qualidades de energia. O teatro me trouxe uma compreensão dramatúrgica da música. É como se eu pudesse provocar em quem me ouve sentimentos que nem sou capaz de prever, embora eu ache o máximo quando uma canção feita para fazer chorar provoque o riso de alguém. É a subjetividade da vida aplicada na arte. Minha arte não termina quando acaba a canção pois a canção traz a reflexão e quando o canto é associado ao gestual, este caminho se estreita. A atriz que me habita, sem dúvidas me aproxima do público. São duas artes complementares. Meu canto precisa do gestual, da expressão, da cura. Eu canto meus tormentos e quero ser entendida, e quero chegar o mais perto possível do coração das pessoas. A atriz me ajuda nesta tarefa.

Hoje em dia são poucas as cantoras da noite que tocam músicas autorais. Como é tocar as suas próprias músicas e as dos amigos no palco? Fazem menos sucesso que os clássicos? Seu público sente falta de poder encontrar um cd seu? Te perguntam se vc já gravou algo, costumam querer te “levar para casa”?

Eu navego muito de mansinho pelos caminhos da composição. realmente não é uma busca minha compor. Às vezes acontece de maneira natural. Me sinto mesmo é porta voz de palavras já ditas, de cantos de outros cantos. A convivência com compositores de minha geração me despertou interesse. Escolhi algumas composições deles para trabalhar e assim tenho feito. É uma forma de divulgar canções novas que são tão boas como grandes clássicos. Meu compromisso é simples. Quero transmitir o pensamento desta canção? Se a resposta for sim, pronto: eu canto! Elas fazem sucesso também. Me sinto feliz quando, no final, alguém me pergunta de quem é aquela canção, como faço pra ouvir, tem cd? Há um interesse nas pessoas em “me levarem para casa” (risos) como você diz e, maior que o interesse delas de “me levarem pra casa” é o interesse que eu tenho de ser levada (mais risos). Minha busca atualmente é trabalhar para conseguir gravar. Um disco é um nascimento para o música. Mas quero isso de forma substancial, portanto me mantenho ativa no trabalho, atenta aos sopros dos anjos, consciente de que casa segura é aquela que construímos tijolo por tijolo.

www.myspace.com/janainamoreno

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