o que dizia ginsberg em 1992

o poeta norte-americano allen ginsberg

os eua, que são só uma parte da américa, chegaram a um ponto violento em termos de consumo, arrogância e hipocrisia. a revolução high tech nos trouxe inúmeras doenças e problemas, como o aumento da temperatura devido aos buracos da camada de ozônio, criou inúmeras doenças pelo planeta, que hoje está com aids. estamos numa enrascada. eu usaria uma metáfora para explicar a situação em que estamos vivendo hoje: os eua são como um alcoólatra que acabou de encher a cara e está tomando outro drinque e fica acusando todo mundo de criticar seu vício. enquanto isso, a família e os outros fingem que não vêem, numa extrema negação da violência e do mal provocado por este indivíduo. o mesmo acontece com os meios de comunicação: eles tentam encobrir os estragos e negar o que está acontecendo. há uma atitude de recusa em ver a “coisa real” e é isso que esse triunfalismo e essa crise moral significam. você pode usar todas as palavras que têm alguma relação com o alcoolismo para explicar a situação atual: sentimentos reprimidos, negação, violência, decadência física e mental, vício, dano, co-dependência.

allen ginsberg disse isso em 1992, numa entrevista concedida ao poeta brasileiro rodrigo garcia lopes, e está publicado no livro vozes e visões – panorama da arte e cultura norte americanas hoje. a fala do velho bardo continua atual. especialmente neste momento de tensão, em que se espera ansiosamente a posse do primeiro presidente negro nos eua, alardeia-se uma crise incrível (como se ela houvesse começado agora) e que a máquina penetra cada vez mais no zeitgeist, o espírito da época.

na mesma entrevista, ginsberg comentava que seu poema howl andava recebendo a censura mais radical até então (radical porque contava com a conivência da população): “o senador jesse helms, com o aval de reagan, conseguiu passar pelo congresso uma lei que bane o uso de linguagens “indecentes” no rádio e na tv, a qualquer hora do dia e da noite, mas sem uma definição do que “indecência” significa. a desculpa é a de proteger os direitos dos menores de idade. com isso, acabaram reduzindo uma população inteira a uma mentalidade infantil”.

é impressionante a lucidez e a agudeza do olhar de ginsberg, nesta entrevista. ele prossegue:

há também outras formas de censura, como a de informações militares como a que vimos na guerra contra o iraque, em proporções colossais. a mídia fez uma lavagem cerebral mesmo: as imagens dos mortos na guerra, do assassinato da população civil e da devastação em proporções apocalípticas no golfo pérsico não foram exibidas nos eua. é provável que você consiga mais informações sobre o que se passa nos eua em jornais europeus do que norte-americanos. por isso a metáfora do alcoólatra, em que o cara provoca estragos violentos e a família tenta encobrir oque realmente está acontecendo.  (…) os jovens de hoje não sabem o que significa a velha liberdade, e isso é triste.

muitas vezes ouço por aí me perguntarem “o que você acha dessa vitória do barack obama?” muita gente olha desconfiado para o novo presidente, como se ele fosse ou o salvador do problema da crise mundial ou então um canalha. mas não dá para esquecer que é esse país descrito por ginsberg que ele irá governar. um país habitado por milhões de loucos de ficção científica. é melhor esperar para ver no que dá.

2 pensou em “o que dizia ginsberg em 1992

  1. É, esta família de que o grande Ginsberg fala, para não dizer CORJA de pilantras engravatados, “donos” do poder, fazem de tudo para continuar apodrecendo o planeta. Para destruir os tentáculos deste monstro que opera no Brasil, somente com uma verdadeira GUERRILHA URBANA, exterminando um a um com tiros certeiros os agentes infiltrados, os pseudo ricos crioulos, digo crioulos como todos nós brasileiros, porém eles, políticos que exterminam a própria raça em troca de um tapinha nas costas dos malditos “imperialistas”.

  2. Meu caro André,
    Obrigado pelo comentário. Cabe a nós fazer o possível para que as coisas mudem. E posso te dizer que ando otimista. Vamos ver se o mundo me ajuda nesse otimismo.

    Abraço.

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