CABOCA: uma conferência sobre a boca

Esta performance funciona como um encontro de linguagens, coloca em cena os diferentes jogos daquilo que Zeca Ligiéro chama de motriz africana. A exemplo do griô, o guewaule do noroeste africano, que é a um só tempo dançarino, músico, narrador, poeta e cantor, a fala do performer passa pelo princípio do cavalo ou do xamã: intérpretes que incorporam o poema, transformando-se num sac-à-paroles, uma bolsa de palavras. 

O título, que é uma corruptela da palavra cabocla, tal como é falada em certas comunidades de brasileiros, funciona também como uma palavra-valise: “com a boca”. Remete, assim, ao objeto principal desta performance, a palavra falada. Mas também às diversas formas que uma cultura da oralidade pode desenvolver: expressão corporal, visualidades, musicalidades.

Ao evocar a ideia de mestiçagem, Caboca também se aproxima das teses do pensador martinicano Édouard Glissant acerca da crioulidade. Para ele, o mundo atual caminha para uma franca crioulização. Crioulas seriam, por exemplo, as línguas e as culturas desenvolvidas em locais de intersecção como ilhas ou istmos. Países como Cabo Verde, Haiti, Cuba e a maioria das ilhas caribenhas, por exemplo, possuem seus idiomas crioulos, que são compósitos de idiomas provenientes da formação humana ali presente. O crioulo é, portanto, uma forma linguística rizomática, quer dizer: que ao estabelecer o encontro, não precisa se desnaturar, mantendo suas diversas origens numa mesma pessoa. Essa linha de pensamento, que é parte da cena, é também uma das bases estruturantes de uma possível crioulidade brasileira (caboclidade?) a ser investigada ao longo da performance.

Ao longo da performance, que tem duração de 50 minutos, aproximadamente, os intérpretes Leo Gonçalves, Flaviane Lopes e Gabriela Pilati intercalam e intercambiam suas principais áreas de atuação. Por isso esta performance possui canto, dança e poesia falada. A ideia de que é uma conferência vem da vontade de fazer, na forma de poesia, um trabalho que resvala na linguagem da conferência, do ensaio. São falados alguns poemas de Leo Gonçalves, assim como algumas traduções feitas por ele de poemas africanos que apresentam princípios de uma poética afrocentrada segundo sua concepção.

Caboca: uma conferência sobre a boca traz elementos de linguagem dada e busca fontes em trabalhos como a Conferência sobre nada e a Conferência sobre alguma coisa de John Cage, na qual o compositor expõe ideias composicionais, mesclando-as com a própria forma da conferência, que algumas vezes foi apresentada com a presença de instrumentos musicais e de músicos acompanhando. Segundo este autor, a intenção era “dizer o que eu tinha que dizer de um modo que o exemplificasse; ou seja, permitir ao ouvinte experienciar o que eu tinha a dizer mais do que apenas ouvir a respeito”.

Assim, Caboca: uma conferência sobre a boca  é, sobretudo, poesia falada, mas também ensaio, diálogo, música, dança, palavracanto, sopro.

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Necessidades técnicas:

Sala com boa acústica

3 microfones

Projetor + Fundo para projeção

Espaço cênico adaptável

Para a iluminação, entregarei um mapa quando estiver mais próximo o evento

Amplificação para violão

Para contactar, clique em CONTATO ou ligue para 31 97354 1854

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Última atualização: 02-02-2020