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Leminskanções

Leminskanções: disco duplo, com Estrelinski e os Paulera

Hoje Paulo Leminski faria 70 anos. 70 anos em pleno auge do sucesso editorial. 70 anos bem vividos dentro de cada poeta que perambula pelo Brasil.

Era ele que dizia:

quando eu tiver setenta anos
então vai acabar esta adolescência

vou largar da vida louca
e terminar minha livre docência

vou fazer o que meu pai quer
começar a vida com passo perfeito

vou fazer o que minha mãe deseja
aproveitar as oportunidades
de virar um pilar da sociedade
e terminar meu curso de direito

então ver tudo em sã consciência
quando acabar esta adolescência.

Estrela Ruiz Leminski, a linda filha dele então teve a seguinte sacada: que nada melhor do que acabar a adolescência lançando seu primeiro disco. Por isso, hoje, dia 24 de agosto de 2014, Leminskanções foi disponibilizado para download gratuito. O disco é duplo e está incrível. No lado Essa noite vai ter sol, canções compostas pelo Paulo, no lado Se nem for terra, se transformar, aquelas parcerias bacanas que já eram hits da sua cabeça.

Intérprete das canções do pai, Estrela reuniu também um time de primeira para cantar com ela e sua banda “os Paulera”. Arnaldo Antunes, Zeca Baleiro, Na Ozzetti, Zélia Duncan, Serena Assumpção e outros que você poderá descobrir indo lá fazer o download.

É conhecida a faceta de compositor de Paulo Leminski, mas sabe-se mais por ouvir falar do que por ouvir cantar. Suas músicas mais famosas, por terem sido gravadas por grandes compositores, acabam passando despercebidas, atribuídas a quem as canta. É o caso de “Verdura”, que foi gravado no começo dos anos 1980 por Caetano Veloso. A música e a letra foram compostas por Paulo Leminski. “Luzes” (aquela música pirada que traz o verso “essa noite vai ter sol”) foi gravada nos anos 1990 por Arnaldo Antunes e uma outra de que não me esqueço (embora cantada por uma intérprete mesmo) é “Filho de Santa Maria”. Me lembro deleitante dela na voz de Zizi Possi. Todas de autoria do polaco loco paca!

Ouvi o disco pela primeira vez na semana passada e hoje na doce companhia de quem o fez ou esteve nas suas entrelinhas (ou seriam estrelinhas?). Desde que baixei, não sai do repeat. Vai lá baixar também, que na internet nada é pra sempre:

www.leminski.com.br

Transatlântico musicado

Alguns de meus poemas têm uma função mágica para mim. Como se sua existência e sua vocalização fossem capazes de me proporcionar, a mim, seu autor e a quem quer que se aproprie dele, uma espécie de cura. Assim é para mim este poema “Transatlântico”, que aparece no meu mais recente livro, o Use o assento para flutuar.

É um poema em ritmo de mar. De tal forma que quer transformar o monossílabo mar em ação, em verbo infinitivo e suas conjugações. Que são vento, léu, deriva. Principalmente deriva. A deriva para a qual topei me entregar e que me levou, apesar de todos os reveses da vida, e que me permitiu conhecer tantos lugares, tanta poesia e, principalmente, tanta gente incrível.

Foi numa dessas derivas, perambulando por Paraty que conheci a linda cantora Elizabeth Woolley. Nos encantamos rapidamente um pelo outro. Logo, a deriva do poema também a encontrou e ela, uma mulher marinha, com sua voz de onda, musicou este que eu pensava ser um poema imusicável.

Em pouco tempo, Elizabeth, a Guzzi, como chamam seus amigos mais próximos, se tornou imprescindível para mim e agora somos parceiros com esta, outra e outras músicas que ainda virão.

Agradeço a ela por tornar real para mim o sonho da música. Estamos juntos na deriva-mundo.

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Elizabeth Woolley é uma alma em busca dos próprios sons. Filha do contrabaixista Pete Woolley, irmã da pianista Louise Woolley, ela compõe, canta, toca violão e piano e emociona o público com bossas, jazz e outros ritmos que ela mistura em sua própria música. Se lançou como intérprete no disco Guzzi e como compositora nos discos Infindável e o infantil Urubububu.

Atualmente, ela desenvolve o projeto “Cartas de amor”, musicando poema de autores diversos, principalmente mulheres (tenho orgulho de estar entre elas com este “Transatlântico”). As canções são arranjadas por ela e seus amigos que se reúnem de tempos em tempos para gravar ao vivo. As filmagens, gravações e edições são realizadas por Flávio Tsusumi e em seguida deixadas no youtube.

Para saber mais sobre ela, vá para o site www.elizabethwoolley.com

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Transatlântico (Elizabeth Woolley/Leo Gonçalves)

Voz : Elizabeth Woolley.
Poema falado: Leo Gonçalves.
Guitarra e Arranjo: Michel Leme.
Baixo Acústico: Bruno Migotto.
Percussão (Cajón): Rodrigo Digão Braz.
Vídeo, áudio e edição: Flávio Tsusumi.