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Céu e Inferno de Swedenborg

Ando lendo, entre outras coisas, a obra do peça-rara sueco Emanuel Swedenborg. Nascido em 1688, morreu aos 84 anos. foi um dos maiores cientistas de todos os tempos, dominando áreas como física, química, filosofia, psicologia, política, anatomia, entre muitas outras. foi pesquisador pioneiro em várias delas.

Foi também poeta e literato. Mas o que o tornou mais conhecido pelo mundo afora foi a sua obra teológica. É que, aos 56 anos, segundo contam, recebeu a visita de ninguém menos do que o TP (o Todopoderoso) que lhe deu a missão de revelar os segredos do céu, do inferno e os símbolos escondidos por detrás dos escritos bíblicos. Palavras do próprio: “Na mesma noite, o mundo dos Espíritos, do céu e do inferno, abriu-se convincentemente para mim, e aí encontrei muitas pessoas de meu conhecimento e de todas as condições. Desde então, diariamente o Senhor abria os olhos de meu Espírito para ver, perfeitamente desperto, o que se passava no outro mundo e para conversar, em plena consciência, com anjos e Espíritos”.

Daí por diante, escreveu uma vastíssima (mais de 40 títulos), obra que fez a cabeça de uma pequena ralé literária: Kant, Goethe, Balzac, Dostoievski, William Blake, Charles Baudelaire, W. B. Yeats, S. T. Coleridge, Ralph W. Emerson, Henry James, August Strindberg, é elogiado por Paul Valéry, aclamado por Jorge Luís Borges e tema de uma das obras principais do poeta polonês Czesław Miłosz: Ziemia Ulro/Land of Ulro. No Brasil, exerceu influência sobre um único poeta, o mais original dos românticos brasileiros: Sousândrade. Ele aparece no começo do Inferno de Wall Street.

1. (O GUESA, tendo atravessado as Antilhas, crê-se livre dos XEQUES e penetra em NEW-YORK-STOCK-EXCHANGE; a Voz dos desertos: )

Orfeu, Dante, Enéas, ao inferno
Desceram; o Inca há de subir…
Ogni sp’ranza lasciate,
che entrate
Swendenborg, há mundo porvir?

Mas, assim como o próprio Sousândrade, por aqui ele não é muito conhecido. Quase não se fala nele. As poucas referências que andei encontrando: o livro de Miłosz publicado pela Unb na coleção Poetas do Mundo Não mais, que, alías, foi o que me despertou interesse pela obra do sueco. O casamento do céu e do inferno de William Blake (que tem uma excelente tradução no livro tudo que vive é sagrado da editora crisálida) é uma espécie de resposta ao livro De Coelo et ejus mirabilibus et Inferno ex auditis et vidis, de Swedenborg. Ele aparece também em algumas passagens da ReVisão de Sousândrade(sempre sem muita coragem por parte dos organizadores e comentaristas) e em A loucura na razão pura de Monique David-Menard.

Essa obra teológica deu origem à igreja swedenborgiana que, teologicamente, parece ter incentivado as incursões espirituais do francês Allan Kardec. Segue aí o endereço do site brasileiro sobre a obra de Swedenborg, organizado pela sua igreja brasileira (sede no rio de janeiro desde os anos 40!).

Vale a pena conferir: www.swedenborg.com.br