Arquivo da tag: guerrilha

o que dizia ginsberg em 1992

o poeta norte-americano allen ginsberg

os eua, que são só uma parte da américa, chegaram a um ponto violento em termos de consumo, arrogância e hipocrisia. a revolução high tech nos trouxe inúmeras doenças e problemas, como o aumento da temperatura devido aos buracos da camada de ozônio, criou inúmeras doenças pelo planeta, que hoje está com aids. estamos numa enrascada. eu usaria uma metáfora para explicar a situação em que estamos vivendo hoje: os eua são como um alcoólatra que acabou de encher a cara e está tomando outro drinque e fica acusando todo mundo de criticar seu vício. enquanto isso, a família e os outros fingem que não vêem, numa extrema negação da violência e do mal provocado por este indivíduo. o mesmo acontece com os meios de comunicação: eles tentam encobrir os estragos e negar o que está acontecendo. há uma atitude de recusa em ver a “coisa real” e é isso que esse triunfalismo e essa crise moral significam. você pode usar todas as palavras que têm alguma relação com o alcoolismo para explicar a situação atual: sentimentos reprimidos, negação, violência, decadência física e mental, vício, dano, co-dependência. Continue lendo o que dizia ginsberg em 1992

lançamento: revista roda nº 6

acho que ainda dá tempo: será lançada hoje a revista roda nº 6, comandada pelo mestre-sala ricardo aleixo. no novo número, uma porção de belezuras: homenagem aos 70 anos de nascimento e 40 de poesia e provocaçãm de sebastião nunes. na homenagem, um dossiê com entrevista, poemas, comentários de caras como bruno brum, glauco mattoso, ademir assunção. além de um poema de affonso ávila com o nome de “são sebastião da bocaiúva”. para quem já conhece a poesia desse cara que já é considerado um mestre de todas as gerações que vieram depois dele. além disso, a revista roda traz poemas do angolano abreu paxe, o cubano nicolás guillén, o mineiro paulo kauim e muito mais.

e em meio a este “muito mais”: o meu ensaio “os sessenta anos da anthologie – um livro inventa o presente“. uma espécie de homenagem aos 60 anos da primeira edição da anthologie de la nouvelle poésie nègre et malgache de langue française [antologia da nova poesia negra e malgaxe de língua francesa] organizada em 1948 pelo poeta e (então futuro) presidente do senegal léopold sédar senghor. meu ensaio traz também traduções de alguns poemas presentes na anthologie.

o lançamento acontece hoje, dia 16 de novembro, às 18h, no estande do Lira, instalado no 9º encontro das literaturas, no chevrolet hall.

poema passageiro: mostra sesc artes 08

começou hoje, na cidade de são paulo, a proposição “poema passageiro”, inventada por ricardo silveira. e vai até o dia 20 de outubro. serão 9 poetas, 1 por dia, exibindo seus vídeo-poemas a cada hora nas tvs instaladas em alguns ônibus da cidade. além disto, esta proposição ganhou um “bônus”: os mesmos poemas estarão na linha verde do metrô e nas livrarias nobel e siciliano. a programação é a seguinte:

11/10 chacal
12/10 rodrigo garcia lopes
13/10 ricardo domeneck
14/10 marcelo montenegro
15/10 ricardo silveira
16/10 angelica freitas
17/10 bruna beber
18/10 marcelo sahea
19/10 ana rüsche
20/10 leo gonçalves

os blogues e o inconformismo

é uma grande alegria poder de vez em quando folhear o blogue de caetano veloso, obra em progresso. como eu disse numa postagem anterior, ele lança lá algumas pérolas-bomba muito felizes. há algum tempo atrás, eu costumava ouvir pessoas reclamarem que caetano é genial quando compõe e um fiasco quando abre a boca. de duas uma: ou caetano mudou ou aquelas pessoas estavam equivocadas. o que vemos lá no blogue dele é um cara polêmico, engraçado e mordaz – com um olho clínico-crítico para o fino de problemas mundiais muito contemporâneos e eternos como o racismo e a opressão. como é o caso da querela que podemos ler exatamente no obra em progresso em torno à canção “base guantânamo”, composta recentemente por ele.

nos últimos dias, caetano chamou a atenção para dois outros blogues, talvez não tão charmosos quanto o dele, mas ainda mais interessantes: são os blogues do casal cubano yoani sánchez (que ganhou com o seu blogue generación y o prêmio ortega y gasset de jornalismo digital) e reinaldo escobar (a foto acima foi colhida no blogue dele). é lá que ficamos sabendo que o excelentíssimo ex-ditador fidel castro, depois de ter deixado o poder passou a dedicar-se à escrita (uma pena que ele não quis aprender a escrever poemas ou conhecer a etnopoesia de jerome rothenberg para aplicar em seus escritos). parece que a despedida do poder, deu aos cubanos (incluindo o fidel) o desejo de botar a boca no tombone. e no rol dos protestos sobra pra todo mundo, incluindo o caetano. acho que palavras podem ser usadas para fazer voar ou para oprimir. para saber quem usa como, a dica é espiar lá. in loco. nos devidos blogues.

www.obraemprogresso.com.br
www.desdecuba.com/generaciony
www.desdecuba.com/reinaldoescobar

e uma boa notícia

o outro toque também vale a pena, e encontrei no blogue da cidinha: é que a nossa querida ex-ministra marina silva acaba de inaugurar sua coluna na folha de são paulo. acredito, numa boa, que com esse espaço ela pode nos oferecer discussões que ultrapassem a rasura típica da imprensa brasileira, que quer tratar de assuntos sérios sempre com superficialidade e desinteresse.

INICIO MINHA participação neste espaço com enorme sentido de responsabilidade. Tenho a oportunidade diferenciada de usar um dos bens culturais mais preciosos: a exposição de idéias, base para o diálogo. Gostaria de compartilhá-la com os leitores e de, juntos, pensarmos o Brasil e reunirmos forças para ajudar a transformá-lo. Para começo de conversa, trato de um entrave para o crescimento do país: a postura ambígua do Estado frente ao nosso incomparável patrimônio natural.

endereço:
www.cidinhadasilva.blogspot.com

uma notícia esquisita

há muito tempo que coloco aqui neste blogue, sempre que a revolta bate, uma cutucada em coisas do mundo das quais não me conformo. amigos meus já comentaram várias vezes sobre a minha birra da revista veja, que não merece de forma alguma o título de maior semanário do brasil. agora, circulando pelo meu blogário, encontrei uma notícia que me tirou um pouco a solidão da rebeldia. estou falando do blogue de maria frô, que periodicamente coloca questões sérias e lamentavelmente pouco discutidas. como o caso dos jornalistas que escrevem uma manchete sobre um escândalo político no pt, quando a notícia é sobre o psdb. um verdadeiro jornalismo de ma fé, ou imprensa de rapina, como eu costumo dizer.

endereço:
www.mariafro.blogspot.com

Anotações para WTC BABEL S. A.

Eu sou aquele que transforma-se em morte
O destruidor de mundos
A rosa de Oppenheimer no Oceano Pacífico
O azul de metileno que brota do inesperado
como a salvação da terra

Os múltiplos braços de Krishna
manejando a roda da fortuna
Eu sou o oceano pacífico
O inimigo número um

(Manhattan Project is the name of a prophetic poem
by F. D. Roosevelt 1942
the shadow of General Yamamoto)

Eu sou o calo no seu sapato
Aquele que transforma-se em Ato
para destruir seus sonhos de burguês
Eu sou a própria morte lambendo os beiços em nome do deus
numa imensa mobilização de símbolos
Águias Lobos Uivos e Coyotes

Eu sou a sua estrada aberta
WTC Babel Sonho Americano
Eu sou o seu beco sem saída
A sua estrela guia o seu sono insano

Linda como um sol poente clara como o Ramadam
ó filhas do Sol Nascente
Do centésimo décimo andar eu sigo sempre atenta
Que os Demônios sempre descem do norte
Eu sou o destruidor de mundos
Aquele que transforma-se em morte

campo coletivo no mariantonia (em sp)

“campo coletivo” é uma exposição que acontece no mariantonia a partir de 27/3 de 2008, quinta-feira, às 20h e que reúne: poro (bh/mg), cine falcatrua (vitória/es), laranjas (pa/rs), gia (ssa/ba) e espaço coringa (sp/sp), sob curadoria de fernanda albuquerque e gabriela motta.

além da produção dos grupos, a exposição terá uma midiateca que agrupa materiais gráficos (panfletos, cartazes, registros e publicações produzidos pelos participantes), projeções de vídeo, ativações e biblioteca.

a midiateca conta ainda com uma máquina de xerox e um computador para que seu conteúdo possa ser copiado pelos visitantes (leve seu dvd).

para mais informações, leia a notícia completa no blogue do marcelo terça-nada!

a revista viva voz e "a lata" de patrícia mc quade

saiu recentemente a revista viva voz, resultado da oficina de escrita da professora elisa amorim. das aulas ministradas pela professora, saíram excelentes textos, dentre os quais destaco este verdadeiro retrato da vida contemporânea e do verão que entra.

a lata
por patrícia mc quade

sentiam-se comprimidos, envergonhados, condensados, apertados, oprimidos, sintetizados, humlhados, amassados.

os rostos derrotados eram mais que cansados. e pagavam por isso. todo o peso do mundo exercia pressão por todos os lados. perfeita imitação de uma lata de sardinha. precisavam pagar por isso. humanos desafiando a física. como dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço? e pagavam caro por isso.

os cidadãos dentro da lata sobre rodas suavam. termômetros acusavam: o dia mais quente o verão. poucos sentados. a maioria de pé. todos tremendo juntamente com o motor que roncava. aquela lata cantava de maneira insuportável. por que deus criou nossos ouvidos? e as pessoas pagavam por isso.

gente encostada nas janelas abertas, aproveitando o alívio do vento morno. os outros empilhados, de braços erguidos, sustentando no equilíbrio os corpos uns dos outros. a total coletividade individual, com dificuldade de respirar, agonizava e pagava por aquele ar que cheirava a dia de trabalho e de competitividade por emprego, por dinheiro, por status, por oportunidade e, agora, por espaço. e pagavam pelo não-merecido.

fora da lata começava a chuva mansa que ao toque com o asfalto incandescente produzia um mormaço ainda mais insuportável que o calor do sol. o mormaço queria também o espaço da lata, que já possuía o calor de seu motor e o suor dos corpos, e entrou sem pagar por isso, transformando a lata em uma panela de pressão. e o cozido humana pagava sempre por isso.

a velocidade oscilava em sucessivas paradas para que os sujeitos já compactados descessem e outros embarcassem. a lata cada vez mais carregada e lenta, com a preguiça de uma babosa, se arrasta pelas ladeiras da cidade e em freadas bruscas e arrancadas estúpidas, e o traçado de curvas ondulantes, seguimento retilíneo, tudo isso como regras de um joguete de corpos que obedeciam ao ritmo imposto: para frente, para trás, para a direita, para a esquerda, agora lançamento oblíquo. sem ordem, ao acaso. os corpos obedeciam, amontoados e deprimentes e pagavam a viagem com dinheiro roto, suado, mas sempre pagavam por isso.

(traduzido do castelhano por leo gonçalves)