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zé celso & os sertões no rio de janeiro

há mais ou menos um ano atrás, eu e patrícia assistimos à primeira apresentação integral da peça “os sertões” do grupo oficina uzyna uzona, comandado por zé celso martinez corrêa. trata-se de uma obra monumental, apresentada em cinco dias, com cerca de 5h por apresentação. a epopéia de euclides da cunha, em cena, se divide em “a terra”, “o homem I – do pré homem à revolta”, “o homem II – da revolta ao trans-homem”, “a luta I” e “a luta II”. 25 horas de teatro em alta voltagem. poesia, ritual, música, oficina de humanizar. a peça marca para mim uma verdadeira mudança de paradigma. mudança de rumos. último capítulo de uma longa história que começou no dia em que comecei a gostar de arte. última fase da última limpeza que fiz nas minhas “portas da percepção”. assisti à peça depois de haver escrito “uma festa bacana”, poema que traz muitos elementos da peça, assim como uma prosa delirante e inédita que somente a minha namorada conhece, e que li para ela no última madrugada da nossa estada em são paulo, de 25 para 26 de setembro de 2007, logo após assistirmos “a luta 2”. a peça de zé celso me corroborou.

assim como outras peças do oficina, “os sertões” é um capítulo da luta que o grupo trava contra o grupo sílvio santos (ss) há 25 anos. “as bacantes”, “boca de ouro”, “ham-let”. isto porque o teatro está construído exatamente no lugar onde sílvio santos planeja construir um imenso shopping center. uma história sórdida que está documentada no site do oficina e que merece ser acompanhada na íntegra. uma guerra de davi e golias, a velha guerra entre arte e capitalismo.

numa entrevista à revista folhetim, zé celso comenta:

“o teatro oficina é uma coisa muito estranha porque não é mais nem uma metáfora: eu comecei não querendo entregar o teatro, quando voltei do exílio, por uma questão até de birra, porque saí de lá à força, com a polícia invadindo etc. e de repente, eu me vi pensando: “não, eu podia fazer exatamente tudo que eu faço em outro lugar, como posso fazer todas as peças que faço noutro lugar, mas, se eu fizer nesse lugar, eu vou ter mais problemas e, conseqüentemente, esses problemas vão me inspirar mais, porque se trata realmente de ver até que ponto existe um poder na cultura e na arte e qual é o confronto que elas estabelecem com as forças reais da sociedade, até que ponto o teatro tem algum poder.”

agora, no princípio de outubro, a peça “os sertões” se apresenta mais uma vez na íntegra. desta vez, no rio de janeiro, depois de ter passado pelo recife e salvador em uma mini-turnê (que infelizmente não inclui belorizontem) a obra se insere na programação da 8º riocenacontemporânea.

para mais informações:

www.riocenacontemporanea.com.br
www.teatroficina.com.br

a ditadura militar acabou ou não?

uma cena que não sai na imprensa: um menino de dezesseis anos pega o ônibus para sua casa na periferia de belo horizonte. acontece uma batida policial no meio do caminho. confusão e tiros. um cidadão é atingido. o garoto corre para socorrer e os policiais assustados não querem deixar. o menino nervoso começa a gritar, a insultar. um dos policiais decide: desacato à autoridade. e desce a porrada no menor de idade. assim. em público. na frente de todo mundo. em casa, horas mais tarde, o garoto ouve um sermão da mãe. algumas pessoas dizem que é necessário denunciar, mas a família acha que “essas coisas acontecem”, que é melhor “deixar na mão de deus”.

na verdade, fazendo um diagnóstico, o que deixa a gente revoltado diante dessa situação é que no fundo no fundo, todos estão morrendo de medo. o policial não sabe em quem ele bateu, o garoto não pode denunciar porque a polícia pode ameaçar a família, a família quer entregar nas mãos de deus para não continuar tendo problemas com ninguém, nem com a lei da favela, nem com a do governo. e a revolta só sobe de nível, enquanto quem manda no brasil é uma deusa chamada apatia. até quando, isso é o que eu não sei.

quanto custam os seus sonhos?

para completar minha revolta, meu computador voltou a botar aquele recadinho assim: “seu computador pode estar em risco: você está utilizando uma versão não autorizada do windows.” através da internet, a microsoft entra no seu computador e faz a inspeção para saber se você está usando uma versão pirata ou não. mas no seu aparelho, você coloca: sonhos, desejos, planos, planilhas, organizações, cartas de amor e cartas a você mesmo, paixões, projetos. de certa forma, a sua vida está lá dentro. o risco de que fala aquele recadinho da microsoft é o de ela vir e apagar os seus sonhos como se fosse o vento sobre a areia. já estou substituindo o word pelo writer do open office (o programa é muito mais inteligente e não faz nenhuma chantagem, pelo contrário, me incentiva a colaborar). como meu aparelho é usado por toda a minha família (ao todo 7 pessoas), ainda não tive a coragem de chutar o balde e passar para o ubuntu, como fez a lenise, mas farei isso em breve. paciência tem limites. (para quem não sabe, o ubuntu é um sistema operacional que substitui o windows – e, diga-se de passagem, mais inteligente e colaborativo, também). detalhe para quem leu a mensagem abaixo: o open office (a versão brasileira se chama br office) já transforma o arquivo de word, jpg, excel e tudo mais em pdf, se vc precisar. sem choro nem vela.

você no meio de uma guerra mercadológica

estive ontem em guerra. precisava transformar um arquivo de word em pdf. uma exigência da ufmg para a entrega final das teses de mestrado e doutorado (era um help para um amigo). quebrei a cabeça para solucionar o problema e de repente me dou conta que estava no meio de um mato sem cachorro: a microsoft detém os direitos dos editores de texto e cia. a adobe é a dona dos programas de pdf. é um beco sem saída. claro que não pago para nenhuma das duas. felizmente tem os freepdf e open office – com uma pequena ajudinha dos amigos – para salvar a gente nessa horas. mas é uma luta idiota esta.

coincidência encontrar justo hoje os comentários sobre isso nos blogues amigos do anderson e da lenise (link aí do lado). daí eu fico me perguntando: por que tanto sofrimento? já que esse é um país de gente pobre, acho que todo mundo devia partir era para os softwares livres de uma vez. a vida seria mais simples.

11 de setembro – apontamentos para wtc babel

um esclarecimento: não faço nenhuma apologia à morte de 3.000 pessoas, assim como lamento a existência de 800 milhões de telespectadores idiotizados pelo mundo afora. o que me atentou para certos aspectos desse atentado foi me deparar com a situação de que tudo foi mostrado como um grande espetáculo no qual não nos foi mostrado um mortozinho sequer. a mídia dramatizou à exaustão a ausência dos mortos e seus recados derradeiros. todos se indignaram com um atentado que, se a verdade está estampada de fato nas notícias de imprensa (talibã, al-qaeda, fundamentalismos etc), não passa de uma reação ao abuso do poder pelo mundo afora que não cessou nem mesmo com o fim de ditaduras e as declarações de liberdade dos países. todo esse acontecimento nos faz pensar nos 45 anos de guerra fria e suas rebordosas pelos anos 90 e 2000 afora. o que foi essa influência dos EUA sobre o mundo? fazendo um balanço, foi positiva? existe algo de positivo nela? e os poetas, em relação a isso? eles uivam, cássio? vivemos um mundo novo depois da explosão desse aviãozinho no prédio? e o que foi feito da bomba atômica? ela continua nos ameaçando? se continua, essa bomba é aquela que não encontraram no iraque?

tenho muitas perguntas a esse respeito.

um poema de william burroughs

dia de ação de graças, 28 de novembro de 1986

agradeço pelo peru selvagem e os pombos passageiros, destinados a virar merda nas saudáveis tripas americanas.

agradeço por um continente a espoliar e envenenar.

agradeço pelos índios por garantirem uma módica dose de desafio e perigo.

agradeço pelas vastas manadas de bisões para matar e depelar e depois deixar as suas carcaças à putrefação.

agradeço pelos troféus de caça de lobos e coiotes.

agradeço pelo sonho americano, por inventar lorotas até que elas brilhem à luz do dia.

agradeço pela klu klux klan. aos policiais que matam negros e os contabilizam. às decentes beatas de igreja com suas mesquinhas, interesseiras, feias e perversas caras.

agradeço pelos adesivos de “mate uma bicha em nome de jesus cristo.

agradeço pela aids de laboratório.

agradeço pela proibição e pela guerra contra as drogas.

agradeço por um país onde a ninguém é permitido cuidar da seus próprios problemas.

agradeço por uma nação de dedos-duros.

agradeço, sim, todas as lembranças – ok, deixa eu ver o que você tem nas mãos!

você foi sempre uma dor de cabeça e uma encheção de saco.

agradeço pela última e maior traição do último e maior sonho dos sonhos humanos.

(tradução de leo gonçalves)

deixo o original (Thanksgiving Day Nov. 28, 1986) no vídeo de gus van sant

revista zunái

está no ar a versão virtual da revista zunái (www.revistazunai.com.br) que é comandada por claudio daniel e rodrigo de souza leão, além do projeto gráfico de ana peluso e um conselho editorial de peso. este número, como sempre muito bonito, tem sua iconografia baseada em reproduções do acervo do museu de cabul (afeganistão), destruído em 2002 por milicianos do talebã, e também de objetos saqueados no iraque, durante a segunda guerra do golfo. não podia calhar melhor nas vésperas do 11 de setembro.