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algo indecifravelmente veloz

algo indecifravelmente veloz - andityas soares de moura

na onda livros livros livros, a linda notícia: algo indecifravelmente veloz, antologia de poemas do parceiro andityas soares de moura está sendo lançada em portugal pela editora edium. e vai repleto de louvações: “um dos nomes mais representativos da nova vaga da poesia brasileira”, se vê lá no blog da editora. andityas, que já tem seu lentus in umbra publicado e traduzido na espanha, esteve na cidade do porto no último dia 12 para o lançamento. e não deixa pra menos: sua tradução do livro dibaxu de juan gelman também acaba de sair pela mesma editora. parabéns. 2008 começa mesmo em alta rotação.

saiba mais, clicando aqui: www.ediumeditores.blogspot.com

o céu e o inferno de swedenborg

O céu e as suas maravilhas e o Inferno, segundo o que foi ouvido e visto - Emanuel Swedenborg

 

foi-me concedido, assim, descrever agora essas coisas vistas e ouvidas esperando, com isso, esclarecer a ignorância e dissipar a incredulidade.

outro livro me chega pelo correio, enviado pelo meu amigo andré guimarães. desta vez uma obra que me lembra os contos de jorge luís borges: o céu e as suas maravilhas e o inferno segundo o que foi ouvido e visto. a publicação é da “edições das doutrinas celestes para a nova jerusalém”, órgão da igreja swedenborguiana brasileira. uma curiosa incursão nos mundos do além-túmulo, com as descrições cuidadosas dos hábitos e costumes dos anjos e dos seres infernais. o livro lembra em muitos sentidos a “divina comédia” de dante alighieri. finalmente em língua portuguesa. Continue lendo o céu e o inferno de swedenborg

outra língua – henryk siewierski

outra língua - henryk siewierski

canção de ninar

cai do sono
para o outro lado
da lua

a noite será
toda tua.

dia desses, recebi na minha casa uma preciosidade: o livro outra língua de henryk siewierski. a edição está linda e simples, produzida pela ateliê editorial.
o autor é polonês, mas os poemas foram escritos em português. ao todo são 55 poemas de alguém que se brasilificou sem nunca deixar de ser polaco. a outra língua, fica a pergunta, é a daqui ou a de lá? ou aquela que fica entre as palavras e um olhar de miríades sobre um mundo novinho em folha?

cigarra

no princípio era a
cigarra,
seu canto acordou o
menino,
o choro do menino
acordou o pai,
que fez o mundo para
ver se o distraía.

alguém talvez me pergunte, nesse país que não conhece o que tem de bom: mas quem é henryk siewierski? bem, ele é um desses personagens que vêm de fora e ajudam o brasil a ser um lugar melhor. penso nele como fazendo parte da turma de estrangeiros geniais que se aclimataram entre nós: paulo rónai, anatol rosenfeld, otto maria carpeaux e por aí vai. Continue lendo outra língua – henryk siewierski

arte, literatura & educação no overmundo

versos travessos - criação coletiva
convido vocês para lerem a minha primeira colaboração no site overmundo.

trata-se de uma entrevista com a professora patrícia mc quade,  venho colaborando nos trabalhos que ela desenvolve nos últimos anos e achei que esse é um momento maduro para divulgar. opiniões intensas e muito afirmativas a respeito da educação e da literatura desde a infância. questões que merecem um destaque todo especial, para muito além do overmundo ou do mundo over.

quem quiser dar uma olhada, eis o endereço:

www.overmundo.com.br/entrevista

entrem, votem, comentem. e participem também do overmundo.

release: lançamento do livro com/posições de juan gelman

Lançamento nacional do livro Com/posições de Juan Gelman, em tradução de Andityas Soares de Moura acontece no sábado, dia 29 de setembro a partir das 10h da manhã na Livraria Quixote, em Belo Horizonte.

Sábado, dia 29 de setembro, a partir das 10h da manhã, na livraria Quixote, acontece o lançamento do livro Com/posições, obra de um dos artistas mais participantes no cenário cultural e político da atualidade. Juan Gelman vem se destacando por sua dupla atuação como poeta e jornalista. Autor de mais de 3 dezenas de livros, sua obra vem pouco a pouco aparecendo também no Brasil graças ao esforço de alguns poetas tradutores. É o caso de Andityas Soares de Moura que, tendo traduzido o livro Isso (Editora UnB, 2004) para a coleção Poetas do Mundo, em parceria com Leonardo Gonçalves, lança agora a tradução de Com/posições, um de seus livros mais expressivos.

Com/posições é um livro híbrido, onde o autor recria diversos poetas árabes e judeus antigos fazendo deles ao mesmo tempo parceiros e heterônimos de Juan Gelman. Assim, os autores “traduzidos” vão desde o rei Davi até a poetas árabe-espanhóis da idade média, o período conhecido como Al-Andaluz. Mas a escolha dos poemas ali presentes não é sem razão: o argentino se vale das vozes antigas para falar de sua própria condição de exilado.

A primeira edição desta obra em língua castelhana se deu em 1986 e os poemas foram escritos entre 1984 e 1985, período em que ainda se comia os frutos da ditadura militar argentina (1976-1983), uma das mais sangrentas e cruéis da história. Gelman foi uma das vítimas mais célebres do regime militar. Em 1976, pouco depois do golpe, os militares invadiram a casa do poeta, seqüestraram o seu filho e sua nora, Marcelo e Claudia (que estava grávida) e os levaram a um campo de concentração no Uruguai onde foram mortos e desaparecidos. Gelman continuou vivo, pois já havia conseguido asilo político na Europa e passou a seguir numa busca revoltada e incansável por notícias do neto (mais tarde saberia que era neta) e os restos mortais do filho e da nora. Em 1989 o governo militar encontrou as ossadas de Marcelo e somente em 2000, apareceram notícias de sua neta e Claudia, por sua vez, a despeito da campanha internacional que se deu durante todo o período, segue desaparecida e a causa dada como perdida.

Com este episódio lamentável, Gelman manteve-se em constante revolta e não silenciando jamais as iniqüidades do governo militar. Entretanto, uma marca de sua poesia é uma imensa ternura e uma grande manifestação de amizade para com o seu povo. O escritor Júlio Cortázar, num artigo de 1981, comenta: “Talvez o mais admirável em sua poesia seja sua quase impensável ternura ali onde mais se justificaria o paroxismo do rechaço e da denúncia, sua invocação de tantas sombras por meio de uma voz que sossega e arrulha, uma permanente carícia de palavras sobre tumbas ignotas”.

Gelman vem sendo traduzido para vários idiomas e vem também acumulando diversos prêmios pelo mundo afora. Entre os prêmios principais destacam-se os seguintes: Nacional de Poesia 1993-1996 (Argentina, 1996), Literatura Latinoamericana y del Caribe Juan Rulfo (México, 2000), José Lezama Lima – Casa de las Américas (Cuba, 2003), LericiPEA (Itália, 2003), Pablo Neruda (Chile, 2005), Premio Reina Sofía de Poesía Iberoamericana (Espanha, 2005). Sobre sua inventividade poética, comenta o poeta paulistano Haroldo de Campos: “Eu considero o Gelman, hoje, um dos maiores poetas da língua espanhola em geral e, também, no nível internacional. Por isso, temos de divulgar a sua poesia.”

O livro, além de trazer na íntegra os poemas “Com/posições” (Com/posiciones, no original), traz também um precioso prefácio do tradutor e uma entrevista com os tradutores brasileiros Andityas Soares de Moura e Leonardo Gonçalves, originalmente publicada em 2005 no Suplemento Literário de Minas Gerais.

Para maiores informações, consulte os sites:

www.crisalida.com.br
www.juangelman.com (este site em espanhol é mantido pelo próprio autor)

um livro inaugurador

“fique este dia e esta noite comigo e você vai possuir a origem de todos os poemas
vai possuir o que há de bom da terra e do sol….sobraram milhões de sóis,
nada de pegar coisas de segunda ou de terceira mão….nem de ver através dos olhos dos mortos….nem de se alimentar dos espectros nos livros,
e nada de olhar através dos meus olhos, nem de pegar coisas de mim,
você vai escutar todos os lados e filtrá-los a partir de seu eu.”

estas são palavras mágicas de um poeta que inaugurou a modernidade norte-americana (não apenas por causa do verso livre, como muita gente poderia superficialmente supor) em 1855, ou seja, 54 anos antes do movimento futurista italiano e 67 anos antes da semana de arte moderna de são paulo. o abalo que whitman provocou na literatura só se compara ao de rimbaud.

o livro em questão se chama: Folhas de Relva. meu amigo oséias silas ferraz, editor da crisálida, já há algum tempo me falava desta obra. ele chamava a atenção para o fato de que a obra de whitman é uma imensa constelação cujo ponto de partida é a edição de 1955, que trazia apenas 12 poemas. mas 12 poemas que dão melhor do que nenhum outro uma visão do verdadeiro poeta de paumanok [nome indígena de manhatan]. oséias já tinha até começado a realizar o seu projeto de traduzir esses poemas e eu mesmo já havia revisado o belíssimo “grandes são os mitos”, poema que fecha o récueil. mas eis que no princípio de 2005 temos notícia do monumental projeto da editora iluminuras. depois, conversando com o meu amigo (que confessou certa frustração), concordamos que não poderia ter havido melhor trabalho nem melhor tradutor.

trata-se de rodrigo garcia lopes (que já nos deu outras grandes maravilhas como a melhor tradução brasileira das Illuminations, de Jean-Arthur Rimabaud). por aqui, no país da batucada e da bundocracia, eu vi aparecer muito poucos trabalhos com esse fô(le)go e essa paixão. a tradução caprichosa e um ensaio-biografia tornam o livro uma obra-prima e um puta exemplo a ser seguido por quem escreve e traduz. rodrigo teve até o fôlego de traduzir (poucos tradutores brasileiros se animariam a isto) o prefácio-manifesto que precede a obra. um maravilhoso serviço, não só aos apaixonados por poesia, mas também para a própria obra de whitman. são 320 páginas elétricas que nos introduzem a um universo pouco conhecido por aqui (por increça que parível).

saravá rodrigo!

áfrica, essa desconhecida

é o poeta antônio risério quem lembra a imensa dificuldade que há em se falar da áfrica. nossa ignorância sobre o assunto começa em nós mesmos. por mais óbvio que seja, sempre que falamos de coisas d’áfrica, pensamos a partir dos preconceitos e dos desvios que a história deixou. seria ocioso ficar lembrando as inúmeras vezes que falamos desse continente demonstrando profunda falta de conhecimento sobre o assunto.
recentemente incluído nos programas do ensino fundamental do mec, a história da áfrica é agora um assunto urgente e a nossa ignorância precisa acabar. nesse sentido, o livro que a editora crisálida publicou recentemente é uma lamparina no meio da escuridão. nele, os autores (uma angolana radicada no brasil e um brasileiro) demonstram extrema paixão pelo tema e se a obra peca em algum sentido, é porque o caráter introdutório não permitiu que os autores se prolongassem nos detalhes. adianto que cumpre bem o papel de história crítica.
“usualmente, associamos idéias e noções estereotipadas que constroem e são construídas por uma imagem de uma áfrica tribal, tradicional, arcaica, com negros em trajes pré-industriais e armas primitivas, buscando seu alimento nas savanas. nestas representações, a áfrica aparece como distante, como separada de nós por alguns séculos. sugerem que nós, (os tupiniquins) participamos da civilização ocidental e nisso nos distinguimos dos “negros-africanos-tribais”. procuramos buscar elementos que mostrassem os limites dessa simplificação e que colaborassem para pensarmos o continente em outros moldes.”

é o que os autores dizem na introdução à introdução. de minha parte, gostaria que muitas coisas ainda neste mundo começassem a ser pensadas em outros moldes. mas se começarmos apenas por esse, já será um grande começo.

Céu e Inferno de Swedenborg

Ando lendo, entre outras coisas, a obra do peça-rara sueco Emanuel Swedenborg. Nascido em 1688, morreu aos 84 anos. foi um dos maiores cientistas de todos os tempos, dominando áreas como física, química, filosofia, psicologia, política, anatomia, entre muitas outras. foi pesquisador pioneiro em várias delas.

Foi também poeta e literato. Mas o que o tornou mais conhecido pelo mundo afora foi a sua obra teológica. É que, aos 56 anos, segundo contam, recebeu a visita de ninguém menos do que o TP (o Todopoderoso) que lhe deu a missão de revelar os segredos do céu, do inferno e os símbolos escondidos por detrás dos escritos bíblicos. Palavras do próprio: “Na mesma noite, o mundo dos Espíritos, do céu e do inferno, abriu-se convincentemente para mim, e aí encontrei muitas pessoas de meu conhecimento e de todas as condições. Desde então, diariamente o Senhor abria os olhos de meu Espírito para ver, perfeitamente desperto, o que se passava no outro mundo e para conversar, em plena consciência, com anjos e Espíritos”.

Daí por diante, escreveu uma vastíssima (mais de 40 títulos), obra que fez a cabeça de uma pequena ralé literária: Kant, Goethe, Balzac, Dostoievski, William Blake, Charles Baudelaire, W. B. Yeats, S. T. Coleridge, Ralph W. Emerson, Henry James, August Strindberg, é elogiado por Paul Valéry, aclamado por Jorge Luís Borges e tema de uma das obras principais do poeta polonês Czesław Miłosz: Ziemia Ulro/Land of Ulro. No Brasil, exerceu influência sobre um único poeta, o mais original dos românticos brasileiros: Sousândrade. Ele aparece no começo do Inferno de Wall Street.

1. (O GUESA, tendo atravessado as Antilhas, crê-se livre dos XEQUES e penetra em NEW-YORK-STOCK-EXCHANGE; a Voz dos desertos: )

Orfeu, Dante, Enéas, ao inferno
Desceram; o Inca há de subir…
Ogni sp’ranza lasciate,
che entrate
Swendenborg, há mundo porvir?

Mas, assim como o próprio Sousândrade, por aqui ele não é muito conhecido. Quase não se fala nele. As poucas referências que andei encontrando: o livro de Miłosz publicado pela Unb na coleção Poetas do Mundo Não mais, que, alías, foi o que me despertou interesse pela obra do sueco. O casamento do céu e do inferno de William Blake (que tem uma excelente tradução no livro tudo que vive é sagrado da editora crisálida) é uma espécie de resposta ao livro De Coelo et ejus mirabilibus et Inferno ex auditis et vidis, de Swedenborg. Ele aparece também em algumas passagens da ReVisão de Sousândrade(sempre sem muita coragem por parte dos organizadores e comentaristas) e em A loucura na razão pura de Monique David-Menard.

Essa obra teológica deu origem à igreja swedenborgiana que, teologicamente, parece ter incentivado as incursões espirituais do francês Allan Kardec. Segue aí o endereço do site brasileiro sobre a obra de Swedenborg, organizado pela sua igreja brasileira (sede no rio de janeiro desde os anos 40!).

Vale a pena conferir: www.swedenborg.com.br