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Alice Ruiz em francês

Alice Ruiz
Foto: Christian Franz

 

Na virada de 2014 para 2015, recebi um desafio da Alice Ruiz: verter poemas dela para o francês. Achei difícil a proposta. Embora trabalhe há muitos anos com o francês, nunca tinha me aventurado a fazer versos na língua. Mas adoro desafios. E tomei gosto pela coisa. E traduzi também uns versos do Ricardo Aleixo e meus. Vou botar as notícias a conta gotas. Pra durar mais.

3 poèmes d’Alice Ruiz (traduits par Leo Gonçalves)

1.
au principe c’était le silence
seul les marées le cassaient
au principe c’étaient les marées
et leur rythme

au principe c’était le rythme
et le rythme est devenu son
et le verbe s’est fait
et le verbe a vu que le son était bon

au principe le rythme était là
pour que tous ensemble
conduisaient mieux
leur vaisseaux

ensuite il est devenu chanson
et poésie, pour principe

*

no princípio era o silêncio
só quebrado pelas marés
no princípio eram as marés
e seu ritmo

no princípio era o ritmo
e o ritmo transformou-se em som
e fez-se o verbo
e o verbo viu que o som era bom

no princípio o ritmo serviu
para que todos juntos
conduzissem melhor
sua embarcação

depois virou canção
e poesia, por princípio

2.
il était une fois
une femme
qui voyait
un futur d’or
pour
chaque homme
qu’elle touchait

un jour, alors,
elle s’est touchée

*

era uma vez
uma mulher
que via
um futuro
grandioso
para
cada homem
que a tocava

um dia
ela se tocou

3.
SANS RECETTE

D’un geste précis et si doucement
enlever la peau
cette limite de la matière.
Mais celles des ailes, ne pas toucher
elles se collent aux épaules
comme si allaient encore voler.

Les cuisses, libres et fermes
seront écartées
et écartées elles resteront
et la poitrine
sa chair si blanche et nue
n’y pensez pas
la proximité du cœur, non,
pas celui-là
qui peut savoir
comment assaisonner le cœur.

De l’intérieur
garder les viscères pour accompagner.
arroser les herbes
égrener le sel
allumer le feu
marquer le temps.
Finalement pour farcir
l’innocente pomme rouge
qui si douce, humide, indiscrète
nous a ôté du paradis
et nous a fait ainsi
sans recette

*

SEM RECEITA

Primeiro, lenta e precisamente,
arranca-se a pele
esse limite com a matéria.
Mas a das asas melhor deixar
pois se agarra à carne
como se ainda fossem voar.

As coxas, soltas e firmes,
devem ser abertas
e abertas vão estar
e o peito nu
com sua carne branca
nem deve lembrar
a proximidade do coração
Esse não. Quem pode saber
como se tempera um coração?

Limpa-se as vísceras,
reserva-se os miúdos
para acompanhar.
Escolhe-se as ervas,
espalha-se o sal,
acende-se o fogo,
marca-se o tempo
e, por fim, de recheio,
a inocente maçã,
que tão doce, úmida e eleita
nos tirou do paraíso
e nos fez assim:
sem receita


musique Zé Miguel Wisnik

Leminskanções

Leminskanções: disco duplo, com Estrelinski e os Paulera

Hoje Paulo Leminski faria 70 anos. 70 anos em pleno auge do sucesso editorial. 70 anos bem vividos dentro de cada poeta que perambula pelo Brasil.

Era ele que dizia:

quando eu tiver setenta anos
então vai acabar esta adolescência

vou largar da vida louca
e terminar minha livre docência

vou fazer o que meu pai quer
começar a vida com passo perfeito

vou fazer o que minha mãe deseja
aproveitar as oportunidades
de virar um pilar da sociedade
e terminar meu curso de direito

então ver tudo em sã consciência
quando acabar esta adolescência.

Estrela Ruiz Leminski, a linda filha dele então teve a seguinte sacada: que nada melhor do que acabar a adolescência lançando seu primeiro disco. Por isso, hoje, dia 24 de agosto de 2014, Leminskanções foi disponibilizado para download gratuito. O disco é duplo e está incrível. No lado Essa noite vai ter sol, canções compostas pelo Paulo, no lado Se nem for terra, se transformar, aquelas parcerias bacanas que já eram hits da sua cabeça.

Intérprete das canções do pai, Estrela reuniu também um time de primeira para cantar com ela e sua banda “os Paulera”. Arnaldo Antunes, Zeca Baleiro, Na Ozzetti, Zélia Duncan, Serena Assumpção e outros que você poderá descobrir indo lá fazer o download.

É conhecida a faceta de compositor de Paulo Leminski, mas sabe-se mais por ouvir falar do que por ouvir cantar. Suas músicas mais famosas, por terem sido gravadas por grandes compositores, acabam passando despercebidas, atribuídas a quem as canta. É o caso de “Verdura”, que foi gravado no começo dos anos 1980 por Caetano Veloso. A música e a letra foram compostas por Paulo Leminski. “Luzes” (aquela música pirada que traz o verso “essa noite vai ter sol”) foi gravada nos anos 1990 por Arnaldo Antunes e uma outra de que não me esqueço (embora cantada por uma intérprete mesmo) é “Filho de Santa Maria”. Me lembro deleitante dela na voz de Zizi Possi. Todas de autoria do polaco loco paca!

Ouvi o disco pela primeira vez na semana passada e hoje na doce companhia de quem o fez ou esteve nas suas entrelinhas (ou seriam estrelinhas?). Desde que baixei, não sai do repeat. Vai lá baixar também, que na internet nada é pra sempre:

www.leminski.com.br

Entrevista com Janaína Moreno

Janaína Moreno vai gravar seu primeiro disco e procura investidores. Entrou num sistema crowdfunding para arrecadar fundos. A coisa é simples e já bem conhecida por quem usa internet: você colabora e se torna apoiador(a) com algum dinheiro através do site e fica por dentro do processo de feitura, ganha um cd autografado, conversa com a cantora. Para fazer seu cd, ela e a produtora C2 chamaram o produtor baiano Luiz Brasil e o disco promete vir bonito e com surpresas.

[Para conhecer mais do projeto e colaborar, clique aqui.]

Quem já viu um show da Janaína Moreno sabe da energia que rola. Cantora com voz potente, bota a plateia para sambar sem dó. Vive rodeada de músicos incríveis e aproveita muito de seus quitutes de atriz, mãe e dama sedutora. Difícil sair de um show dela sem um sorriso imenso na cara.

Nascida em Belo Horizonte, foi uma das principais cantoras do projeto Samba da Madrugada, invenção do Miguel dos Anjos, Mestre Jonas, Dudu Nicácio e outros bambas de lá. Se mudou para o Rio de Janeiro em 2009 ao se sair vencedora no concurso Novos bambas do velho samba, organizado pela casa noturna Carioca da Gema, na Lapa. O crítico musical Sérgio Cabral a definiu como uma cantora “cheia de bossa e brasilidade”. Vem dividindo palco com grandes mestres da música brasileira: Alcione, Monarco e o saudoso Walter Alfaiate foram apenas alguns.

Nas idas e vindas, entrou como cantora num barco transatlântico, circulou por alguns países africanos, mergulhou um pouco mais nas culturas matrizes de seu samba, que mistura ritmos brasileiros como o coco, o maracatu, jongo, calango, congo e muitos mais.

******

A Jana é pessoa das mais queridas para o Salamalandro. Me concedeu uma pequena entrevista em 2008, quando seu projeto estava no começo. Agora, mais que nunca, chegou o momento.

Por que Festeira? Como surgiu o nome?

Tive a necessidade de dar um nome e conceituar este trabalho solo quando fui selecionada para o concurso “Novos bambas do velho samba” que é uma realização tradicional do Bar Carioca da Gema e queria que meu show falasse da minha trajetória até então e que fosse honesto com meu momento de carreira. Foi então que começamos (eu, Andreza Coutinho e o Miguel dos Anjos) a pensar num nome que abarcasse tudo o que buscávamos. Festeira sou eu, mesmo. Uma festeira de mão cheia. Minha música “Festeiro” já sugeria o nome, mas snão foi o mais importante. O fundamental é que festeira é um adjetivo que retrata bem a mim e ao show. Misturo ritmos de festejos populares com o samba e o show se torna uma grande festa!

O que surgiu de novo com a experiência de cantar no Rio de Janeiro?

Tantas novidades! No Carioca da Gema eu tive a oportunidade de fazer o show de abertura de personalidades do samba como, por exemplo, Monarco, Wanderley Monteiro, Walter Alfaiate, Moacyr Luz, Tia Surica dentre outros. Além de colaborar com a minha pesquisa de novos sambas. Ouvi sambas que nem imaginava algum dia conhecer. O trabalho de observação destes que levam o samba como filosofia de vida, e com muito fundamento, me alimentou ainda mais de respeito. O samba é realmente muito generoso e eu lhe devo muito respeito. Com toda esta vivência, um amadurecimento do show foi algo natural. Mas ainda temos muito pra crescer.

Você é uma cantora que insere muito de sua experiência como atriz no palco. Como é isso para você?

Acredito numa arte que transforma o ser humano. Parece meio esotérico o que vou dizer: a arte tem poder de cura. a música transforma o ambiente, o deixa mais feliz, mais triste. Manipula-se com a arte várias qualidades de energia. O teatro me trouxe uma compreensão dramatúrgica da música. É como se eu pudesse provocar em quem me ouve sentimentos que nem sou capaz de prever, embora eu ache o máximo quando uma canção feita para fazer chorar provoque o riso de alguém. É a subjetividade da vida aplicada na arte. Minha arte não termina quando acaba a canção pois a canção traz a reflexão e quando o canto é associado ao gestual, este caminho se estreita. A atriz que me habita, sem dúvidas me aproxima do público. São duas artes complementares. Meu canto precisa do gestual, da expressão, da cura. Eu canto meus tormentos e quero ser entendida, e quero chegar o mais perto possível do coração das pessoas. A atriz me ajuda nesta tarefa.

Hoje em dia são poucas as cantoras da noite que tocam músicas autorais. Como é tocar as suas próprias músicas e as dos amigos no palco? Fazem menos sucesso que os clássicos? Seu público sente falta de poder encontrar um cd seu? Te perguntam se vc já gravou algo, costumam querer te “levar para casa”?

Eu navego muito de mansinho pelos caminhos da composição. realmente não é uma busca minha compor. Às vezes acontece de maneira natural. Me sinto mesmo é porta voz de palavras já ditas, de cantos de outros cantos. A convivência com compositores de minha geração me despertou interesse. Escolhi algumas composições deles para trabalhar e assim tenho feito. É uma forma de divulgar canções novas que são tão boas como grandes clássicos. Meu compromisso é simples. Quero transmitir o pensamento desta canção? Se a resposta for sim, pronto: eu canto! Elas fazem sucesso também. Me sinto feliz quando, no final, alguém me pergunta de quem é aquela canção, como faço pra ouvir, tem cd? Há um interesse nas pessoas em “me levarem para casa” (risos) como você diz e, maior que o interesse delas de “me levarem pra casa” é o interesse que eu tenho de ser levada (mais risos). Minha busca atualmente é trabalhar para conseguir gravar. Um disco é um nascimento para o música. Mas quero isso de forma substancial, portanto me mantenho ativa no trabalho, atenta aos sopros dos anjos, consciente de que casa segura é aquela que construímos tijolo por tijolo.

www.myspace.com/janainamoreno

Changó el gran putas

“Changó, tu pueblo está unido en un solo grito.”
Manuel Zapata Olivela

Às vezes, o inusitado acontece de maneira especial. Eu estava participando do Fliv – Festival Literário de Votuporanga, quando vejo na programação do Fórum de Dança (que costuma acontecer paralelo ao Fliv) o espetáculo Changó el gran putas, apresentado pelo dançarino togolês Vincent Harisdo. Me lembrei imediatamente de ter tomado conhecimento havia pouco do poema homônimo do colombiano Manuel Zapata Olivela.

Ao conversar com o dançarino e seu parceiro, o griot Bachir Sanogo, soube que Olivela havia sonhado ver aquele poema atravessando o Atlântico e ocupando as mentes dos africanos. Harisdo, que é de origem yoruba, comentou o quanto lhe parecia bom ouvir falar de seus deuses ancestrais do lado de cá, entre os descendentes que haviam sido privados da memória de seu povo.

O Changó el gran putas de Vincent Harisdo fala um pouco disto: as belezas imensuráveis das tradições africanas que habitam o corpo e a mente dos seus descendentes em todos os cantos do mundo. O quanto toda essa beleza tem sido escamoteada ao longo dos séculos, e o quanto nós resistimos mesmo assim, produzindo algumas das criações mais admiráveis (e admiradas) do nosso tempo.

O espetáculo, que traz o nome do orixá, é uma criação mestiça. Bachir Sanogo é descendente de uma longa tradição de griots malinkè. Com seus cantos em bambara e mossi, acompanhado de kamel ngomi (o instrumento de cordas que ele toca na foto acima), djembê, dumdum, cabaças e congas, ele sonoriza e dá vida aos passos do dançarino. Me falou de seus ancestrais como um povo vanguardista, pioneiros na domesticação dos cavalos (anterior aos árabes) e nas políticas de respeito à mulher (secularmente anterior às feministas do século XX). Uma das coisas que concluímos foi que, ao aceitarmos a África como nos é dada pela mídia mundial: um lugar de tristeza e dor, digno de pena e criações de ongs para enviar esmolas, estamos aceitando que a África que corre em nosso sangue é também esta.

Vincent Harisdo lembra que “gran putas” não é um palavrão, mas um grande elogio. Algo como “Xangô o fodão” ou “o puta deus Xangô”. Um oriki. Um oriki para nos lembrar que “gran putas” é esse povo que troa xangô pelo mundo afora, a começar pela dupla e seu ngunzu denso.

Para quem quiser conhecê-lo melhor: http://harisdo.free.fr/

Para quem quiser ouvir Bashir Sanogo: www.myspace.com/bachirsanogo
Quem quiser ler o poema de Manuel Zapata Olivela, olha aí o link para baixar o pdf: /chango-el-gran-putas-afro

Juliana Perdigão

Escrevo ainda sob os efeitos entusiasmantes do show de lançamento do cd Álbum desconhecido, que rolou na última quinta-feira, dia 10 de maio, no Teatro Oficina.

Não estou falando de uma nova Elis Regina, não é uma Clara Nunes do século XXI, tampouco uma Cássia Eller repaginada. Não é nada disso. Falo de Juliana Perdigão, cantora única que segue um caminho próprio em meio à nova cena musical brasileira. Com repertório diversificado, sua voz de timbre incomum, acompanhada de seu clarinete, ela se arranja em canções que vão das doçuras da diva à mais alegre marchinha carnavalesca.

Juliana não é nova na cena musical de Belo Horizonte. Eclética, é ela a clarinetista que tocava no grupo de chorinho Corta Jaca, do novo rock do Graveola e o lixo polifônico, cantora em diversas canções de Flávio Henrique e a voz da marchinha de maior sucesso no último carnaval: “Na coxinha da madrasta”. Faz parte da nova geração de compositores e músicos mineiros, ao lado de Kristoff Silva, Makely Ka, o já saudoso Mestre Jonas e muitos outros.

Bem humorado já desde o título, seu disco Álbum desconhecido não tem remakes de canções famosas. E Juliana prova que não precisa dar esse tipo de cancha para o público. Rodeou-se de uma seleção de artistas admiráveis mineiros e paulistanos. A começar pela banda: Maurício Ribeiro (teclados, violões, escaleta e arranjos), Thiakov (baixo), Matheus Bahiense (bateria e percussão) e Pablo Castro (guitarra). Não para por aí. No disco participam também músicos como André Abujamra, Carlos Careqa, Benjamin Taubkin, Rômulo Froes, Alaécio Martins, Bruno Santos, Daniela Ramos, Du Macedo, Luiz Gabriel Lopes, Gabriel Guedes e muitos outros, para que você se confunda entre os já famosos e os que ainda serão.

O Álbum desconhecido é desses discos que você precisa ouvir todos os dias. Para se manter vivo, para se manter alegre, a saúde em alta. Para que a vida valha a pena. Eu mesmo já estou viciado.

Para saber mais e baixar o disco, é aqui:
www.julianaperdigao.com.br

O raio de luz Mestre Jonas


(18 de março de 1976 – 30 de dezembro de 2011)

No começo dos anos 2000, Mestre Jonas apareceu repleto de swing e bom humor na cena musical de Belo Horizonte. Me lembro dele lá na casa do Renato Negrão, num papo sobre as primeiras ações de um movimento que mostrou que Minas é muito mais do que Clube da Esquina. Mestre Jonas estava lá, com seu violão, voz doce, uma pegada única que me deixou impressionado. Depois, no Samba da Madrugada, ele estava lá, ao lado de Dudu Nicácio, Miguel dos Anjos e seus convidados de peso trazendo fôlego novo ao samba das Minas Gerais. Mestre Jonas, o raio de luz, passou por aqui e tornou o mundo melhor, mais respirável. Gravou um único disco. Tinha mil projetos em mente, parcerias começadas. Não estava na hora ainda, mas hoje ele se foi. Aos 35 anos. Foi requisitado em Aruanda.

Vai em paz, meu querido! Nesse reveillon, fumarei um cachimbo em sua homenagem. Ninguém vai poder te substituir, mas a gente continua o trampo aqui, na medida do possível. Que os deuses recebam bem o orixá que você é!

Nzambi a tu bane ngunzu mukukaiela para a gente que fica!

Casa fora do eixo

Graveola e o Lixo Polifônico, Fusile, Dead Lovers Twisted Heart, Lavoura, A Banda Mais Bonita da Cidade, Flavião e o Retrofuturismo, Monograma. Tudo isso você aproveita se estiver neste domingo em São Paulo e puder dar uma chegada lá na Casa Fora do Eixo. (Clique na imagem para ver melhor)

Para saber mais é no: www.casa.foradoeixo.org.br

Nova Música Instrumental Mineira

A notícia não é nova, mas ainda dá tempo. Está rolando agora, em BH a Mostra Nova Música Instrumental Mineira. Uma parceria entre a produtora Ultrapássaro e o Slow Food Piquenique.

Para quem não sabe, Minas possui uma das produções musicais mais criativas e consistentes no Brasil hoje. Pelo festival já passaram Rodrigo Torino, Rafael Macedo, Benjamin Taubkin, André Rocha, Juarez Moreira e muitos outros, entre oficinas e concertos que acontecem em meio a um delicioso piquenique nos parques da cidade.

Amanhã, dia 24 de novembro, teremos o grupo Madeirame e Maurício Ribeiro, no parque Lagoa do Nado às 11h. E para o próximo sábado, dia 30, a partir das 16h, no Parque Mangabeiras, tem João Antunes Quinteto e o grupo de percussão Prucututrá.

Para mais informações, é no:
www.mostrainstrumental.wordpress.com

Iê iê iê do Arnaldo Antunes

Iê Iê Iê

O disco é do caralho! O título já de cara avisa que aí vem homenagem. Não, não é aos beatles. São os ieieiê daqui: Roberto e Erasmo Carlos e toda a turma da jovem guarda. Umas leves pitadas de Cauby Peixoto disfarçadas entre os gritos do cantor. Mas não é um revival dos anos doirados.

Os ritmos têm aquele gostinho de rock romântico e sonhador dos anos oitenta. Aqueles mesmos anos que a gente passava ouvindo Titãs Cabeça Dinossauro Sonífera ilha. Quem cresceu nos anos oitenta põe o dedo aqui. Lembra daquela batida de rock quadradona, aquele rock para ousados cabeludos de cabelo repicado? E aquelas músicas de dançar a dois que a gente chamava de “música lenta”. Esperávamos ansiosos pelo Rock’n Rio, não podia aparecer mulher pelada na televisão, palavrão era censurado até no meio da rua e acreditávamos em tudo o que dizia o Forastieri na revista Bizz.

Felizmente, hoje só quem for bobo se guia por revistinhas de showbizz. O mundo está todo disponível para o nosso gozo que pode ser aqui agora, basta dar um clique. E já não existe mais o showbizz. Tudo é vida. Tudo respira e pira. Milhões de discos, palavrões, dores de cotovelo e mulheres peladas são gravados, fotografados e lançados na rede a cada minuto. Sempre para o nosso gozo. Isso, é claro, sem deixar o mundo que sempre existiu. E é deste mundo que o Iê iê iê fala.

onde é que eu fui parar
aonde é esse aqui
não dá mais pra voltar
porque eu fiquei tão longe

onde é esse lugar
aonde está você
não pega celular
e a terra está tão longe

(da música “Longe”)