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o que se cala é grande

benjamin abras lança seu cd "o que se cala é grande" no dia 19 de março de 2009, às 20:30h no teatro alterosa.

benjamin abras não tem preconceito de linguagens, quando está fazendo arte. costuma me dizer que a poesia é a medula, a coluna vertebral de tudo o que faz. o suporte é o corpo, essa máquina multi-uso. dança, canta, pinta, fala, ginga, batuca, vira ferramenta de inquice, modela, abre caminhos. quem não conhece o trabalho dele, não sabe o que está perdendo. e nem há a desculpa de que é inacessível, porque ele disponibiliza o que faz lá no www.benjaminabras.com com a generosidade de um oxalá.

agora, quem quiser conhecer o trabalho dele ao vivo e a cores, tem que estar em belo horizonte no próximo dia 19, quinta-feira, no teatro alterosa às 20:30h. benjamin abras lança o seu primeiro disco o que se cala é grande. já vou logo avisando que o disco está belíssimo. já vou logo avisando que não sai da minha radiola há mais de uma semana. as músicas todas compostas e cantadas pelo próprio. isso sem falar nas participações luxuosíssimas de fabiana cozza, maurício tizumba e sérgio pererê. a gente se encontra lá.

quem quiser mais informações: (31) 3237 6611
www.benjaminabras.com

nei lopes

fui ontem assistir à festa de encerramento da 1ª maratona do samba em belo horizonte, invenção de miguel dos anjos, um bamba bacana de minas gerais. para fechar a festa, ninguém menos que nei lopes. chego ao bar cartola às 22h e vejo uma fila imensa na porta. sinal de que lá dentro estava lotado. à medida que saíam pessoas, a fila andava. eu, que sou avesso a filas, já comecei logo a duvidar se teria paciência de permanecer ali até ver o que acontecia. não achava que as pessoas iriam querer ir embora antes da chegada da atração principal. mas pouco a pouco fui vendo que estava havendo um grande entra e sai. Continue lendo nei lopes

pode chorar que o choro é livre

festival do choro livre

começa no próximo dia 08, sábado, o festival do choro livre, em bh. a programação está transbordando: muita música boa, rodas de choro nos principais mercados, oficinas, debates e trocas de idéias. quer uma listinha de participantes? não cabe todo mundo aqui, mas dou uma deixa: maurício carrillo, paulo moura, gabriel guedes, rodrigo torino, mestre jonas, seu mozart, os grupos pedacinho do céu, sarau brasileiro, flor de abacate, corta jaca, gafieira senta a pua, dois do samba. agora se quer saber mais e melhor, olha aí o site e o blogue do projeto. e pode chorar, que o choro é livre:

www.chorolivrebh.blogspot.com

www.chorolivre.com.br

patrícia mc quade | suja de piche

suja de piche :: blogue de patrícia mc quade

patrícia mc quade é a mulher que povoa meus sonhos. isso eu nunca escondi de ninguém. aliás, boa parte dos poemas que aparecem aqui, ali, traduções de poemas, minhas idéias mirabolantes, estão dedicados a ela. professora genial, sabe ensinar do jeito que deveria ser a educação que não há no brasil. no começo deste ano, publiquei uma entrevista que fiz com ela no overmundo, onde ela fala das coisas da educação, da poesia, das crianças e dos adultos.

há algum tempo, ela começou a publicar num blogue delicado chamado suja de piche. falei: vou noticiar no meu salamalandro. mas ela, tímida, não queria. agora ela está lá, repleta de notícias de um pouco do bonito que encontra nos palcos e telas da cidade, além de poemas, crônicas, citações e outras coisas belas que ela sabe fazer. uma dica para os navegantes: visitar as postagens mais antigas, que estão repletas de poesia. por via das dúvidas, publico aqui um dos poemas dela que mais gosto:

pena de passarim

para john willis, meu pai

todo dia bem cedinho
seu joão se levanta
e cuida de passarim

é gorjeio aqui
trinado ali
piada acolá
uma beleza de se escutar

mas a piada melhor
é a de seu joão
de alma de passarim
e pena de voar

bom é acordar juntinho
com seu joão
sempre bem cedinho
de pena leve
e alma de passarim

canta pra mim passarim
canta pra mim

patrícia mc quade
www.sujadepiche.blogspot.com

mestre jonas na stereoteca

quem não conhece ainda o trabalho do mestre jonas, demorou para conhecer. ele é um dos músicos mais ativos e engajados na boa música que rola hoje em belo horizonte (vale lembrar, a boa música em belo horizonte hoje é talvez a melhor movimentação musical do país). parceiro de pessoas queridas como janaína moreno, dudu nicácio, makely ka, zéfere, miguel dos anjos, sílvia gommes e quem sabe, um dia desses, meu parceiro também. já andou tocando por aí com ninguém menos que nei lopes, moacyr luz, hermínio bello de carvalho, titane. além disso, para a sorte dos franceses, ele esteve por lá recentemente e deixou a francesada com peau de poule (de cabelo em pé).

a notícia vai em cima da hora, mas ainda dá tempo: mestre jonas toca amanhã, quarta-feira, na stereoteca com seu show sambêro.

quem quiser ter uma palhinha do som que o cara faz, olha aí:

www.myspace.com/mestrejonas

www.stereoteca.com.br

caymmi encontra o canoeiro

acordo no domingo com vontade de informação. abro alguns blogues. encontro caetano que diz: “caymmi completou sua vida luminosa”. entendo tudo. fico triste. caymmi foi na jangada e a jangada voltou só. ele tinha 94 anos e pouco mais de 80 canções compostas. 80 canções inesquecíveis que ensinaram pro brasil o que é que tem no tabuleiro da baiana. sem caymmi não tinha bossa nova, não tinha tropicália, nem o renascimento do samba nos anos setenta, nem muitas outras coisas que formam aquilo que chamamos hoje de brasil.

foi também ele que ensinou a música brasileira a gostar desavergonhadamente dos seus orixás, da sua cor, da sua miscigenação cultural e biológica. o toque do tambor e a beleza da mulher negra nas consoantes oclusivas de “atrás do dengo desta nega/todo mundo vem” cantados como se nem poesia fosse. o poeta antropólogo antônio risério (no seu livro mais recente), comentando sobre “a lenda do abaeté” lembra a rima trimestiça como um símbolo da nossa mistura racial (“batucajé” é vocábulo híbrido de banto e iorubá. “abaeté” é tupi. e “quisé” é português):

no abaeté tem uma lagoa escura
arrodeada de areia branca
ô de areia branca
ô de areia branca

de manhã cedo
se uma lavadeira
vai lavar roupa no abaeté
vai se benzendo
porque diz que ouve
ouve a zoada
do batucajé

o pescador
deixa que seu filhinho
tome jangada
faça o que quisé
mas dá pancada se o seu filhinho brinca
perto da lagoa do abaeté
do abaeté

a noite tá que é um dia
diz alguém olhando a lua
pela praia as criancinhas
brincam à luz do luar

o luar prateia tudo
coqueiral, areia e mar
a gente imagina quanta a lagoa linda é

a lua se enamorando
nas águas do abaeté
credo, cruz
te desconjuro
quem falou de abaeté
no abaeté tem uma lagoa escura

antônio cícero na oficina que deu há um ano atrás em diamantina, comentava que um poema se torna um clássico quando entra para o repertório da língua. e não é preciso ser nenhum gênio para perceber que canções como “o que é que a baiana tem?” e “você já foi à bahia?” contêm alguns dos adágios mais comuns na fala coloquial de qualquer região brasileira. cícero tem razão. afinal, “quem não tem balangandãs não vai ao bonfim”.

caymmi me lembra a minha infância. quando eu era menino, não tínhamos muita música em casa. do pouco que rolava, meu pai gostava de ouvir coisas incomuns, cantadas em línguas estrangeiras ou os antigos cantores do rádio. mas a música que eu nunca esqueço e que ficou gravada nas faixas da minha memória é “o mar”, na voz do dorival, acompanhado de um violãozinho calmo e delicado. provavelmente esta será a única canção que cantará na minha cabeça no dia da minha morte.