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OFF FLIP 2012

A partir de quarta-feira, dia 04 de julho, acontece, a Flip – Festa Literária de Paraty. Para quem ainda não notou (duvido!) este é o evento literário mais glamouroso do Brasil, repleto de muitos focos e fogos, muita matéria nos melhores jornais do país, ingressos a preços exorbitantes. Nada mais nada menos, ultrapassou as Bienais no quesito expectativa do público e lançou uma moda de flaps, flups, flops nos quatro cantos do país.

Nada mais nada menos. Contradições que contradizem as próprias contradições, disso é feita a vida. Vejam bem o que eu disse: o mais glamouroso, não o melhor em que já estive presente. Se quiserem saber qual foi, muito fácil: a BHZIP, que rolou em Belo Horizonte em 1998. Mas antes que a conversa descambe para o delírio total e você, leitor, perca o rumo, volto ao ponto.

De 04 a 08 de julho acontece em Paraty a melhor festa literária para quem estiver por lá de corpo presente: a Off Flip. Enquanto respira os eflúvios da Flip, você pode curtir um clima de muita poesia e encontros com pessoas realmente interessadas em literatura. Bate-papos, mesas-redondas, saraus e baladas pela cidade afora. Na cidade cujo nome já foi sinônimo de cachaça, haverá muito o que fazer (e beber) durante a semana.

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Quanto a mim, estarei por lá a convite do Clube de Autores com quem já tenho uma parceria frutífera há pouco mais de um ano. A programação deste Salamalandro que vos fala, estará intensa. Deixo a deixa aqui para vocês, tomem nota:

Dia 05, das 10 às 15h na Casa do Clube de Autores (Rua do Comércio, 149 – Centro Histórico):
Oficina de Poesia Falada
A proposta desta oficina que darei é pensar a fala como um suporte para o poema, encontrando na sua própria estrutura, a partitura para a sua recitação. Os participantes devem levar, até 3 textos (de preferência de autoria própria) caneta, papel. Caso tenham outros instrumentos, tragam também, serão benvindos. Haverá um único encontro e os resultados serão apresentados no sábado às 18h, como parte da programação da Mostra de Poesia Contemporânea.

6 de julho, 18h às 20h no Camoka Botequim (Praça da Bandeira, próximo ao cais, no Centro Histórico)
Lançamento de livros da Editora Patuá
Com os autores Juliana Bernardo, Barbara Leite, Polyana de Almeida Ramos, Vlado Lima, Cesar Veneziani, Elisa Andrade Buzzo, Eduardo Lacerda, Charles Marlon, Reynaldo Bessa, Flavio Aquistapace. Mediação de Leo Gonçalves.

Sábado, 7 de julho às 10h da manhã no Silo Cultural (Rua Dr. Samuel Costa, 12, em frente à Casa da Cultura, Centro Histórico)
Mesa Literatura Afro Brasileira
A Mesa reunirá lideranças quilombolas, escritores, pesquisadores e ilustradores da Escrita Fina Edições em torno do tema da fusão cultural entre África e Brasil – as contribuições, questões e sincretismos decorrentes dessa miscigenação e a literatura produzida a partir disso. André Côrtes- livros Vozes D’África, O Navio Negreiro (autor das aquarelas de abertura da série de TV Ó pai, ó!), Luciana Grether Carvalho – livro Vida que Voa / Bonecas Abayomi, Leo Gonçalves e Maria Clara Cavalcanti – livros Quibungo e O Terrível Guerreiro – Contos Populares Africanos. Mediação: Ronaldo Santos – Liderança do Quilombo do Campinho.

(Nesta mesa falarei rapidamente sobre os programas centrais da do movimento literário da Negritude, a passagem de Aimé Césaire pelo Brasil e a tradução do poema “Batuque” feita por Carlos Drummond de Andrade em 1963.)

7 de julho, 22h no Barril Pub Choperia (Rua Marechal Deodoro, 27, Centro Histórico)
Picareta Cultural (Fechando com chave de ouro)
Nem os maias, nem a mãe Dináh ou sequer o Paulo Coelho poderiam prever esta audácia: Picareta Cultural – edição especial 5 anos, na OFF FLIP 2012. Poesia, música e cachaça dão o ar da graça novamente. O sarau reúne o fino do fino: autores novos e consagrados, músicos e artistas de todas as partes. O time deste ano é formado pelos poetas Mano Melo, Cintia Luando & Palarvore, Caio Carmacho, Emerson Alcalde, Allan Dias Castro, Edson Moura, Tchello Melo, Felipe Cataldo, Flávio de Araújo, Felipe Rey, Letícia Simões, Leo Gonçalves, Valterlei Borges, Roberto Borati, Tomás Paoni, Matheus José Mineiro e Tiago Malta; a banda Lusofones e grande elenco. Acontece sábado à noite, dia 7 de julho, no Barril Pub Chopperia (ao lado do Sarau Bar e Restaurante), e a entrada é franca. Melhor do que isso, só dois disso. Evoé, picaretas!

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Para saber mais informações  e pegar a programação completa é no www.offflip.paraty.com/offflip2012

Flip on / Off Flip

Foto: Eliane Torino

Ir à Flip, participar de conversas e encontros interessantes, foi uma grande surpresa nesse reviravoltoso 2011. Não esperava encontrar por lá tantos avistamentos, pessoas e encontros memoráveis. Os caminhos que me levaram para lá, a parceria com o Clube de Autores, meus questionamentos e a escolha esperançosa das concessões a fazer, se é que se deve conceder. Comento.

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Não se pode negar que a Flip se tornou o mais glamoroso evento literário do país. Nenhuma bienal foi capaz de superar a imensa atenção-tensão que gira sobre o mercado livreiro durante a Flip. Oswald de Andrade, no entanto, certamente revirou no túmulo. O homenageado deste ano, foi transformado em perfumaria. Antropofagia para madames, polêmicas insossas. Da birra de Antonio Tabucchi ao esnobismo de Claude Lanzmann, não rolou nada que desfizesse o clima de novela das 7. Frases panos quentes como a de Antonio Cândido: “Oswald não era nenhum bicho papão” (que a mídia gostou tanto de repetir), são exemplos do esquema publicitariocêntrico, cujo objetivo é agradar a quem não se levantou do sofá e obter alguma suposta eficácia publicitária cocacola. Literatura mesmo, a inquietude que existe por detrás de toda arte, o mal estar causado pelo surgimento de um novo livro, autor ou ideia, como foi a antropofagia de 1928, tudo isso fica para algum parágrafo distante, periférico.

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Em todo caso, “a alegria é a prova dos nove”. Nas idas e vindas, encontrei-me com o poeta Chacal, o que rendeu inclusive uma volta à tradição do mimeógrafo e do panfleto dos anos 70, muita reflexão e vontade de agitar. Já já falaremos disso. Saravá, Chacal! Ogum iê.

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Quem quiser ir a Paraty na próxima Flip já deve ir pensando principalmente no que rola na Off Flip. A Flip principal, com suas tendas, acontece nas margens do rio, próxima ao pontal, num perímetro pequeno demais da cidade. A festa é fechada para alguns poucos. Custa R$ 40,00 a entrada para ver os astros da literatura ao vivo e a cores. Há uma opção alternativa: os astros podem ser vistos a R$ 10,00 num telão instalado numa tenda vizinha. A alternativa da alternativa é assistir a esse telão do lado de fora da tenda, o que não é nada mal, já que, estando do lado de fora, também não se perde a vista exuberante onde o rio se encontra com o mar.

Mas festa, festa mesmo acontece no bairro histórico: com uma programação intensa e quase 24 horas, aqueles de pés animados podem visitar saraus, debates, trocas de ideias, mesas de bares, experiências literárias gratuitas e degustações inesquecíveis. É a Off Flip, organizada pela Lia Capovilla, a Luiza Faria e várias outras pessoas que trabalham com muito entusiasmo e, lamentavelmente, pouca grana (como tudo que-é-bom-e-poderia-ser-bem-melhor-no-Brasil). É na Off Flip que você assiste ao sarau da Cooperifa, às palestras do Clube de Autores, o sarau Picareta (projeto de Caio Carmacho) no meio da rua com a presença de Mano Melo, Chacal e muitos outros. Na Off, eu encontrei os poetas maloqueiristas empolgadíssimos falando tudo tudo o que vem à mente. Solos de sax, palestra sobre agricultura orgânica, o sarau na casa do príncipe.

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Depois da Off Flip vai demorar para este salamalandro que vos fala colocar todas as coisas no seu devido lugar.