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Leonardo Gonçalves mescla poesia e geopolítica

Alécio Cunha
REPÓRTER

Nesta segunda-feira, o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, tem seu último dia de poder na Casa Branca. No dia seguinte, toma posse o democrata Barack Obama, primeiro presidente negro a ocupar este cargo. O poeta belo-horizontino Leonardo Gonçalves, tradutor de Juan Gelman, William Blake e Molière, aproveita o último instante de Bush na presidência norte-americana para lançar um livro-bomba.

A plaquete “WTC Babel S.A”, publicada pelas Edições Barbárie, será lançada segunda, às 19 h, na sede da Cia. da Farsa (Rua dos Caetés, 616. Centro), com direiro à performance “No Fundo Todos Querem Alcançar o Céu”, gestada pelo poeta numa interação entre texto, voz e imagens.

Os versos deste livro foram elaborados no decorrer do ano passado e são uma provocante reflexão sobre os rumos da nação dita mais poderosa do planeta, sobretudo após a explosão do World Trade Center, em Nov a Iorque, e a reação bélica promovida por George W. Bush e seus asseclas, invadindo o Afeganistão e o Iraque.

“Eu cresci vendo imagens fortes da Segunda Guerra Mudial, fotos de corpos no Holocausto nazista, da carnificina nos campos de batalha. Estra nhei a ausência de corpos no World Trade Center. Houve censura, nenhum corpo foi mostrado. Priorizou-se a imagem da explosão, do choque dos aviões, a força do simulacro, longe do real, bem próxima da sociedade do espetáculo”, frisa Gonçalves.

O incômodo gerou o longo poema, que começa remetendo o leitor ao universo onírico de Walt Whitman, poeta criador de uma linguagem fundante da literatura norte-americana, em textos como “Eu Canto o Corpo Elétrico”: “americanos cantam o corpo elétrico/e quem cantará o corpo eletrônico bytes bits pixels? qual ciborgue tomará a palavra no terceiro milênio?já existem as máquinas de pensar/e quem fabricará a máquina de fazer poemas?’, indaga o autor.

Influenciado principalmente pelos versos livres, pulsantes e, claro, essencialmente políticos da cena beat norte-americana, em especial, Allen Ginsberg, autor de “Uivo’ e “A Queda da América”, Leonardo Gonçalves está muito satisfeito com o resultado desse livro. “Há um trabalho muito cuidadoso com a linguagem, está bem mais evoluído do que trabalhos anteriores meus”, afirma.

“WTC Babel S.A” deve ser lido como um contundente grito de protesto contra os abusos ocorridos na política do presidente George W. Bush. “É o resultado de experimentações formais, um poema híbrido, repleto de imagens do mundo contemporâneo, que vão da sátira mordaz ao mais vivo apelo por um mundo mais human”, salienta Gonçalves.

O poeta conta que escreveu este livro já pensando em sua estrutura verbal, sem, em nenhum momento, deixar de lado a preocupação com a palavra escrita. “Eu elaborei o livro imaginando como seria seu tempo exato de leitura”, frisa, assumindo a sempre desejável conexão entre o oral e o escritural.

Entusisasta da obra de Leonardo Gonçalves, o crítico literário Fábio Lucas (“Mineiranças”, ‘Do Barroco ao Moderno”) assim se expressou sobre os versos potentes do autor de 33 anos. “ É um poema-apelo a clamar pelos olhos abertos e pelos ouvidos atentos, a fim de bem colher as imagens do mundo cruel, travestido em boletim publicitário. A linguagem multicentrada em vários idiomas representa valiosa sátira da subcultura globalizada, que ensina o culto de bezerros-de-ouro plantados nos recantos do planeta”, escreve.

Leonardo Gonçalves não esconde sua postura cética diante da entrada em cena, a partir de terça-feira, do novo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. “Foi uma grande conquista no plano simbólico, mas não podemos nos esquecer que ele continuará governando os mesmos milhões de americanos que, um dia, votaram em Bush”, frisa. “Os Estados Unidos são uma nação puritana e é falsa a idéia que eles vendem de que lá é a terra da liberdade. Não existiu durante o governo de George W. Bush o direito pleno às liberdade individuais”, salienta, lembrando o episódio nefasto das torturas na prisão de Guantamano.

Num dos poemas mais instigantes de seu livro, Leonardo Gonçalves mostra como seus versos podem estar em plena sintonia com o mundo: ‘eu canto o fundo falso/eu sou o fundo falso/eu sou a fechadura/ e a chave do mistério divino/eu sou o mistério divino/por isso canto o corpo histérico/e rebolados das groupies desvairadas/enlouquecidas por minha saliva/que espalho sobre o chão do terreiro/e inauguro com elas/o meu próprio mistério/pois é mister cantar”, assegura o autor, consciente de que lirismo e contundência não são vocábulos excludentes neste planeta.

release: lançamento do livro WTC BABEL S. A. de leo gonçalves

O poeta belorizontino Leo Gonçalves lança nesta próxima segunda-feira, dia 19/01 às 19h o seu poema WTC BABEL S. A., com apresentação da performance “no fundo todos querem alcançar o céu” e noite de autógrafos

Primeiro livro do selo “Edições Barbárie”, WTC BABEL S. A. será lançado na próxima segunda-feira. No ato do lançamento, o poeta Leo Gonçalves apresenta a performance “no fundo todos querem alcançar o céu” e em seguida, haverá noite de autógrafos. O evento acontece na Cia. da Farsa (Rua Caetés, 616 – Centro)

WTC BABEL S. A., poema que dá título ao livro (lançado em formato plaquete), é um contundente grito de protesto contra os abusos ocorridos na política do presidente George W. Bush (que estará cumprindo nessa segunda-feira o seu último dia de mandato). Resultado de experimentações formais feitas por Leo Gonçalves, WTC BABEL S. A. é um poema híbrido, repleto de imagens do mundo contemporâneo, Imagens que vão da sátira mordaz ao mais vivo grito por um mundo mais humano.

Comenta o crítico mineiro Fábio Lucas: “WTC BABEL S. A. é um poema-apelo a clamar pelos olhos abertos e pelos ouvidos atentos, a fim de bem colher as imagens do mundo cruel, travestido em boletim publicitário. A linguagem multi-centrada em vários idiomas representa valiosa sátira da subcultura globalizada, que ensina o culto de bezerros-de-ouro plantados nos recantos do planeta”.

Para o Ato de lançamento, o poeta aposta na força da palavra falada e prepara a perfornance “no fundo todos querem alcançar o céu”, na qual ele falará o poema acompanhado de sua parafernália visual.

Leo Gonçalves (33 anos) é poeta, tradutor e ensaísta. Autor do livro “das infimidades”, vem publicando em diversos jornais e revistas do Brasil. Traduziu a comédia “O doente imaginário” de Molière (livro que teve sua segunda edição em 2008 pela editora Crisálida), o livro de poemas “Canções da Inocência e da Experiência” de William Blake (em parceria com Mário Alves Coutinho e também publicado pela editora Crisálida, 2005) e o livro “Isso”, do poeta argentino Juan Gelman (em parceria com Andityas Soares de Moura, publicação da editora UnB, 2004).

O lançamento ocorrerá no espaço da Cia. da Farsa, companhia de teatro dirigida por Alexandre Toledo. Situado na Rua Caetés, 616, no centro da cidade, o espaço promete excelentes acontecimentos culturais para o ano de 2009.

Orelha do livro:
“Se o “poema falado” não é um conceito novo, com WTC BABEL S. A., Leo Gonçalves inaugura o “poema gritado”. Através de um hábil manejo da língua (ou das línguas), elabora uma ácida e irônica crítica ao governo norte-americano. Crítica que serve como eixo a mover os fios de um mundo desbaratado. Rebela-se diante deste mundo inventado e desafia também a métrica, através de um texto cujo único fim é o de mover o leitor-ouvinte, que a partir desse mesmo instante se converte em protagonista do poema que, em essência, não é outra coisa senão uma manifestação clara e corajosa do amor pela vida acima de tudo”. (María José Pedraza Heredia)

Serviço:
Lançamento do livro WTC BABEL S. A.
Local: Cia. da Farsa – Rua Caetés, 616 – Centro
Dia 19 de janeiro de 2009 às 19h

contatos:

leo gonçalves: 31 9824 5939
jéssica gonçalves: 31 8463 1269

lançamento do livro “machado de assis tradutor” de jean-michel massa

Machado de Assis Tradutor, livro de Jean-Michel Massa é lançado em Belo Horizonte

O pesquisador francês Jean-Michel Massa vem a Belo Horizonte para o lançamento da tradução de seu ensaio Machado de Assis Tradutor. Ele fará uma palestra sobre a obra do autor brasileiro, em evento promovido pela Pos-Lit – Programa de Pós-Graduação em Literatura, da Faculdade de Letras da UFMG.

Pioneiro do estudo da formação de Machado de Assis e ainda hoje quem melhor conhece seu trabalho de tradutor, Jean-Michel Massa é responsável pela divulgação, em 1965, dos Dispersos de Machado de Assis, em que reuniu boa parte da produção machadiana antes não identificada e/ou confinada em periódicos de difícil acesso e do inventário dos 718 livros que ainda restavam da biblioteca do escritor.

Em Machado de Assis tradutor, J.-M. Massa divulga o resultado de sua minuciosa pesquisa. Identifica e analisa 46 traduções de nosso autor, sendo 3 delas inéditas.

Ao lado de traduções conhecidas, como o romance Os trabalhadores do mar, de Victor Hugo, e o poema “O corvo”, de Edgar Allan Poe, estão listadas e analisadas as demais obras traduzidas, algumas por encomenda, outras por escolha do tradutor. A maior parte é de peças teatrais e poemas de autores variados, mas em que prevalecem textos franceses.

Machado de Assis traduziu com regularidade desde o início de sua carreira até a maturidade. Acompanhar seu percurso como tradutor ajuda a compreender sua formação como poeta, crítico, contista, dramaturgo, cronista e romancista.

Fato marcante é que seu primeiro livro publicado seja uma tradução – Queda que as mulheres têm para os tolos (Typografia Paula Brito, 1861; reedição: Crisálida, 2003) – e que seus trabalhos seguintes sejam adaptações de textos franceses para o teatro, seguido de um livro de poemas, Chrysalidas (Garnier, 1864; reedição: Crisálida, 2000), em que mescla poemas próprios com traduções de A. Dumas Filho, M. de Staël, H. Heine, A. Mickiewicz, Dante Alighieri, La Fontaine, entre outros. É uma verdadeira antologia das literaturas européias.

Em seguida à publicação do ensaio, Jean-Michel Massa publicará, em outubro, o livro organizado e anotado por ele, Três peças francesas traduzidas por Machado de Assis. Trata-se de traduções (inéditas) de Machado de Assis.

Machado de Assis Tradutor de Jean-Michel Massa
Crisálida Editora, 2008.
Tradução: Oséias Silas Ferraz
128 páginas preço: R$ 24,00
Local: Faculdade de Letras da UFMG (Auditório Sonia Viegas)
Av. Antônio Carlos, 6777 – Campus da Pampulha

Data: 08 de setembro, segunda-feira, 19 horas

e uma boa notícia

o outro toque também vale a pena, e encontrei no blogue da cidinha: é que a nossa querida ex-ministra marina silva acaba de inaugurar sua coluna na folha de são paulo. acredito, numa boa, que com esse espaço ela pode nos oferecer discussões que ultrapassem a rasura típica da imprensa brasileira, que quer tratar de assuntos sérios sempre com superficialidade e desinteresse.

INICIO MINHA participação neste espaço com enorme sentido de responsabilidade. Tenho a oportunidade diferenciada de usar um dos bens culturais mais preciosos: a exposição de idéias, base para o diálogo. Gostaria de compartilhá-la com os leitores e de, juntos, pensarmos o Brasil e reunirmos forças para ajudar a transformá-lo. Para começo de conversa, trato de um entrave para o crescimento do país: a postura ambígua do Estado frente ao nosso incomparável patrimônio natural.

endereço:
www.cidinhadasilva.blogspot.com

uma notícia esquisita

há muito tempo que coloco aqui neste blogue, sempre que a revolta bate, uma cutucada em coisas do mundo das quais não me conformo. amigos meus já comentaram várias vezes sobre a minha birra da revista veja, que não merece de forma alguma o título de maior semanário do brasil. agora, circulando pelo meu blogário, encontrei uma notícia que me tirou um pouco a solidão da rebeldia. estou falando do blogue de maria frô, que periodicamente coloca questões sérias e lamentavelmente pouco discutidas. como o caso dos jornalistas que escrevem uma manchete sobre um escândalo político no pt, quando a notícia é sobre o psdb. um verdadeiro jornalismo de ma fé, ou imprensa de rapina, como eu costumo dizer.

endereço:
www.mariafro.blogspot.com

revista coyote em dose dupla

a coyote desta vez saiu de sola: chegando ao seu sexto ano, com os poetas ademir assunção, rodrigo garcia lopes, maurício de arruda mendonça e marcos losnak à frente, a revista costuma ser um dos acontecimentos mais esperados por mim, a cada lançamento, a cada nova lista de novidades, a cada idéia genial farejada e lançada. foi lá que eu li pela primeira vez poetas como heriberto yepez, frank o’hara, josé kozer, neuza pinheiro, virna teixeira, o bukowski poeta.

desta vez eles decidiram lançar de uma só tacada dois novos números (16 e 17). maravilhe-se com o conteúdo: alejandra pizarnik, ana maria ramiro, robert melançon, boris kossoy, um dossiê com o cartunista marcatti, andrei codrescu, roberto bolaño, gertrude stein. e mais. muitomais.

esperemos que chegue e seja lançada logo nos quatro ou cinco cantos do país.

saudades do movimento literatura urgente

tenho sentido muita falta das discussões em torno às políticas públicas de fomento à literatura. o movimento literatura urgente eclodiu em meados de 2004, exatamente na época que saía o meu “das infimidades” e a minha tradução de “isso”. lembro que a provocação começou nos blogues do ricardo aleixo e do ademir assunção, logo ganhando visibilidade e se transformando num conjunto de ações reais. houve um grande debate repleto de propostas e a adesão de quase duzentos escritores. os integrantes do movimento entregaram solenemente ao ministro gilberto gil e ao então coordenador nacional do livro, galeno amorim, o manifesto “temos fome de literatura”. lembro-me de ter participado de algumas reuniões, aqui, em belo horizonte, onde havia um grupo bem alentado de pessoas interessadas.

a discussão ganhou bastante espaço entre 2004 e 2005. tenho a nítida impressão que a inclusão do item produção literária no programa petrobrás cultural (veja o texto abaixo) é um efeito positivo dessas discussões. o efeito negativo correu por conta da triste postura da veja, que quis sabotar a idéia -o que já era de se esperar, uma vez que a revista é a porta voz de todos os oligopólios culturais, políticos e industriais do brasil e tem um cuidado todo especial para com os potenciais best-sellers das grandes editoras e faz questão de defender qualquer um que ameace esses oligopólios.

eu estava extasiado, há pouco, relendo o manifesto e fiquei pensando: por que essas coisas nunca ganham um lugar ao sol por aqui? eu penso isso, lembrando o tempo todo do velho sábio darcy ribeiro dizendo: “então, o maior desafio é decidir qual o brasil que nós queremos inventar”.

difícil isso, num país tão imaturo.

para ler o manifesto com suas excelentes propostas que continuam atuais, clique aqui: [manifesto “temos fome de literatura”]

aimé césaire, um negro essencial

fuçando no youtube, encontrei este vídeo curtinho que mostra um pouco do universo de césaire, sua martinica. segue abaixo a transcrição, a título de legenda.

quem é este homem franzino que foge da mídia mas que todos os grandes do mundo vêm saudá-lo na sua ilha da martinica?

ao um tempo poeta, escritor, homem político, aimé césaire é antes de tudo um pioneiro que teve a coragem de defender orgulhosamente sua cor negra e deixar também a sua marca no século xx.

ardente defensor dos valores de esquerda, césaire se define como um socialista conseqüente. o que significa para ele, manter-se permanentemente à escuta de seu povo.

hoje, com mais de 90 anos, aimé césaire continua a receber todo dia no seu escritório na antiga prefeitura de fort-de-france, as personalidades do mundo inteiro, mas também, e principalmente: os simples habitantes da martinica.