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Rebelião na Zona Fantasma

Nesta quarta, dia 08 de dezembro, às 20h na biblioteca Alceu Amoroso Lima (Rua Henrique Schaumann, 777 – Pinheiros – SP), Ademir Assunção apresenta a Rebelião na Zona Fantasma. O concerto, que virou disco em 2005, tem a participação dos músicos Marcelo Watanabe (guitarra), Caio Góes (baixo) e Caio Dohogne (bateria). No vídeo acima, um poemablues performado no Itaucultural.

Revista Celuzlose

Está no ar a revista Celuzlose nº 07. Para quem não conhece a revista, é uma iniciativa bacana, divulgando de tempos em tempos novidades e perenidades da poesia brasileira viva. No número 07, você lê uma entrevista com Armando Freitas Filho e alguns de seus poemas, Bruno Brum, Roberta Ferraz, Thiago Ponce de Moraes, Chiu Yi Chih, o chileno recém-camarada Ignacio Muñoz Cristi. Ana Ramiro e Beatriz Bajo falam na sessão “O que é poesia”. André Dick fala sobre Rimbaud e disponibiliza algumas traduções-invenções, de sua autoria. E tem ainda o poeta e tipógrafo ouropretano Guilherme Mansur, com uma sequência de poemas visuais! Uma belezura.

Além de folhear a revista Celuzlose nº 7 aqui no Salamalandro, você pode também descobrir os outros números no www.celuzlose.blogspot.com

Vale a pena!

Simpoesia 2010

Começa nesta sexta, dia 05 de novembro, o Simpoesia 2010, III Simpósio de Poesia Contemporânea. Durante os três dias do evento, teremos a presença de poetas do Brasil e do mundo em meio a lançamentos de livros, leituras e performances. Entre os vários convidados, teremos Bruno Brum, Arjen Duinker (Holanda), Eva Batlickova (República Tcheca), Antônio Vicente Pietroforte, Ismar Tirelli, Claudio Daniel e muitos outros.

Eu também participarei. Apresentarei, no dia 07, a minha performance Poemacumba, às 18h.

O Simpoesia III acontece na Casa das Rosas e é organizado por Virna Teixeira. Para saber mais notícias, é no seguinte endereço:

www.simpoesia.com

Modelos vivos – Ricardo Aleixo

O esperadíssimo Modelos vivos, novo e recheado livro de poemas de Ricardo Aleixo, já se encontra disponível.  Chegou até aqui com um time de especialíssimo de amigos: o próprio Ricardo pilota a lírica, claro. No projeto gráfico, o camarada Bruno Brum. E o editor, Oséias Silas Ferraz, da editora Crisálida. Uma beleza.

O lançamento em Belo Horizonte será em duas etapas:

1) Dia 11 de setembro a partir das 11 horas no Café com Letras (Rua Antônio de Albuquerque, 781 – Savassi)

2) Dia 14 de setembro, às 19h30, também no Café com Letras. Ricardo Aleixo apresenta sua leitura-concerto Música para modelos vivos movidos a moedas e abre uma pequena exposição de poemas visuais de sua autoria.

Se eu estiver em BH, quem quiser me ver nos referidos horários, apareça lá. E tomara que role logo um lançamento em São Paulo. Quando houver, aviso.

Saiba mais no www.jaguadarte.blogspot.com

Nada a dizer

O que interessa a Sahea é a criação de significados carregados de uma sutilíssima crítica ao status neutro e esvaziado que a linguagem adquiriu em nossos dias.

Marcelo Ariel

Marcelo Sahea está com livro novo. Ainda não li, mas o título se parece muito com as palavras que ouvi de Marcelo há um ano atrás no bate-papo após sua performance no Oi Futuro. Algo como “quanto mais você me entende, menos entendo”. Seu novo livro sai pela editora AnnaBlume e em breve deve estar nas livrarias. Quanto a mim, não vejo a hora de ter um exemplar em mãos.

Para acabar com o juízo dos críticos

Sempre tive um pé atrás com as críticas que topam manifestar juízos sobre o que presta e o que não presta. Tenho para mim que toda teoria que parte de um único ponto de vista acaba por se tornar unívoca e, por isso mesmo, equívoca. Aprendi muito cedo que o projeto poético alheio deve ser respeitado, mesmo que eu não goste dos seus princípios ou os seus fins. Cada pingo no seu i, alguns iis com seus acentos. Repito o lugar comum de que “não gosto de poetas, nem de poesia, gosto de poemas”. Mas não serei eu a tomar partido ante o que supostamente presta ou não presta. Uma base teórica costuma ter a pretensão de basear-se em conceitos. Todo bom conceito precisa funcionar como uma ferramenta de pensar. Mas se um conceito segue sendo usado para engendrar juízos de valor, ele logo se tornará um pré-conceito. Na verdade, todo juízo de valor, feio ou bonito, bom ou ruim é sempre um preconceito, um pré-juizo que nada tem a ver com a arte em si.

A chegada da obra de Ezra Pound na cultura brasileira, nos anos 50 e 60 através dos concretistas e de Mário Faustino foi providencial. Nos dias de hoje, o discurso insistentemente neopoundiano está obsoleto e mal utilizado. E não é culpa das idéias dele. É que elas cansaram de servir a tudo. Vivemos uma época de tantas incertezas que ficamos sem perceber que neste assunto nada mais foi investigado, proposto, acrescentado. Aprendemos muito pouco sobre Pound depois dos concretos. Falar dele em língua portuguesa é lê-lo fora de seu contexto. Seria necessário pensar em toda a poesia de língua inglesa desde sua época até os dias de hoje, com suas várias gerações de artistas que pegaram a lição do velho Pound e a aproveitaram à sua maneira. Dos beats ao slam, muita coisa passou desapercebida no lado debaixo do equador. A language poetry e o concretism são apenas manifestações tímidas e localizadas em meio ao turbilhão revolucionário da língua de Blake e não são as mais radicais, e já temos Jerome Rothenberg que colocou recentemente os poetas xamãs esquimós do Canadá ao lado de Augusto de Campos no setor destinado à poesia visual em sua antologia Poems for the millenium.

Noto que, com o tempo, os críticos se apegam aos juízos e se esquecem que Pound queria uma poesia sem literatura, que ele incitava os artistas da língua a escrever no idioma vernacular falado (não será exatamente o que Mallarmé também sonha quando diz em seu poema, já com a carne triste depois de haver lido todos os livros e pensado seriamente em fugir: “entends le chant des mâtelots [ouve a canção dos marinheiros]”?) e que o seu paideuma, (ou mãedeuma) era proposto apenas como um dentre os muitos possíveis ou não passava de filhodeuma.

O discurso dos ditos “de vanguarda” está gagá. Até mesmo a pretensa “tradição da ruptura” de Octavio Paz, (aquela teoria segundo a qual a tradição da poesia moderna consiste em romper com o passado, ou seja, a tradição de romper com a tradição) já perdeu o sentido. Afinal, romper com o que? Com que tradição podemos romper se já não nos apegamos a nenhuma. Se Bauman está certo em dizer que vivemos em “tempos líquidos”, vamos quebrar o quê?

Não é de hoje que leio poetas-críticos respeitáveis que não conseguem esquecer as lições dos concretos. Em plena era pós-2000, ainda alardeiam os mesmos adágios que Haroldo e Augusto de Campos andaram repetindo com maestria ao longo dos últimos quase 60 anos (!) mas com uma nota decadente, já que estão ocupados mais que tudo em fazer com que a literatura (a poesia incluída como literatura) entre pelo cânone. Procuram não-linearidade na criação literária, acham proibido falar de qualquer coisa que não seja o próprio poema no poema, negam a importância do idioma vernacular e esperam grandes pretensões do mero ato de fazer poesia por fazer. Para completar, veneram a importância das ditas “grandes obras” e citam poetas de prestígio unânime, “canonizados”. Ou seja, querendo se dizer amantes do difícil, acabam recorrendo ao fácil (existe coisa mais fácil que aceitar como “bom” aquilo que já é inquestionadamente aceito por todos?).

Todas as grandes descobertas passam por um primeiro momento em que ficam acessíveis apenas aos pesquisadores mais avançados e depois se tornam de uso comum. Os irmãos Campos foram vanguarda nos anos 50 e mantiveram uma chama acesa durante décadas num país fadado à burrice. Mas hoje em dia, eles são leitura obrigatória do jardim de infância de qualquer poeta brasileiro que se preze. Repetir essas teorias como se fossem a grande resposta depois de haver alcançado a idade adulta, é sintoma de alguma paranóia ou então estamos diante de um estranho conservadorismo, justo ali onde o crítico se quer mais avançado. Pois não foram os próprios poetas concretistas que a princípios dos anos 80 exortavam seus discípulos Paulo Leminski, Waly Salomão, Antônio Risério, Régis Bonvicino a romper com o concretismo?

É preciso acabar com o julgamento e a sanha classificatória dos literaturistas. Isto sim seria romper. O que podemos depreender de todo o processo civilizatório da cultura brasileira até aqui é que fomos, na maior parte do tempo, um povo reverente a tudo o que cremos ser la crème da civilização. No intuito de “fazer parte”, nós brasileiros acabamos boiando. Nos esforçamos incansavelmente para negar nossa barbárie que é, a bem da verdade, nosso maior patrimônio e o que nos coloca na vanguarda dos povos, ao lado dos bororo, os hotentotes, os taraumaras, os maori. Para quê se esconder por detrás das palavras? Se continuarmos a perder tanto tempo com juízos, escolhas do que é bom ou não, classificações e etiquetamentos, logo chegaremos ao século XIX ou ao manicânone. Convenhamos: a linearidade só pode ser um problema para aqueles que têm fé na linearidade de suas vidas. A poesia, “religião original da humanidade” (Novalis) é liberdade da linguagem (Leminski). E liberdade é ter todas as opções à mão, sem interditos. Se é para seguir o pensamento crítico de Ezra Pound, então por favor, que se possa pelo menos “make it new”.