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Plano Nacional de Direitos Humanos

O texto final deste Programa é fruto de um longo e meticuloso processo de diálogo entre poderes públicos e sociedade civil. Representada por diversas organizações e movimentos sociais, esta teve participação novamente decisiva em todas as etapas de sua construção. A base inicial do documento foi constituída pelas resoluções aprovadas na 11ª Conferência Nacional dos Direitos Humanos, que compuseram um primeiro esqueleto do terceiro PNDH. (…)

O desafio agora é concretizá-lo.

Paulo Vanucchi


Este PNDH-3 será um roteiro consistente e seguro para seguir consolidando a marcha histórica que resgata nosso País de seu passado escravista, subalterno, elitista e excludente, no rumo da construção de uma sociedade crescentemente assentada nos grandes ideais humanos da liberdade, da igualdade e da
fraternidade.

Luis Inácio Lula da Silva

Este é um assunto de interesse de todos. Muita genta não sabe: o governo brasileiro lançou na virada do ano o Plano Nacional de Direitos Humanos, também conhecido como PNDH3. Um pacotão que está dando o que falar. Os críticos mais ácidos afirmam que o pacote é, finalmente, o programa petista sendo posto em prática. Mas a verdade é que não se trata apenas disto.

Nos últimos 15 anos, o governo tem discutido com representantes de todos os setores interessados (durante o processo participaram cerca de 14 mil pessoas de todos os estados brasileiros) um plano nacional de direitos que amplie a participação da sociedade civil. No texto final, há diversas cláusulas polêmicas, como o direito ao aborto (baseado no direito da mulher sobre o próprio corpo), a união civil entre pessoas do mesmo sexo, a adoção de crianças por casais homossexuais, o direito à memória (a abertura dos arquivos da ditadura militar, por exemplo), o amplo direito à cultura e à saúde, a criação de juizados de conciliação para casos de invasão de terras abrindo meios para um princípio de reforma agrária e por aí vai.

O problema é que o assunto tem sido discutido e polemizado apenas por tendenciosas alas do poder. A igreja critica, entre outras coisas, o direito ao aborto, acusa Lula de “o novo Herodes”, os militares reclamam da abertura, os juízes e ruralistas afirmam que o Plano vai contra a propriedade privada e que fortifica o Movimento dos Sem Terra.

O item relacionado à cultura me parece ainda insuficiente, mas não será isso que tornará o todo menos interessante. O assunto interessa a todos, enfim. E se é para haver polêmicas, que sejam justas. Com opiniões dos dois lados.

Tenho visto poucas manifestações das partes mais interessadas. Mas uma das que mais gostei foi o ato público que ocorrerá em São Paulo, no domingo, dia 07 de fevereiro às 17h, na esquina de Rua Augusta com Avenida Paulista: haverá um Beijaço pelos Direitos Humanos, uma pacífica saudação ao Plano que poderá tornar o Brasil legalmente um país bom de viver. Vamos fazer um em Belo Horizonte também? No mesmo dia e hora. Beijo é sempre bom. Que tal na Praça da Estação…

Para ler o texto completo do PNDH3, é só clicar aqui.

Roberto Piva: xamã sem pajé

Acho chato falar de um poeta sempre nos limites da fraqueza humana, no leito do hospital, no desespero e na urgência. Um poeta como Roberto Piva merece ser sempre comentado e lembrado em estado de exuberância, vivo flaneur de um lugar onde o cheiro incita o caminhar, mesmo que no horizonte seja possível avistar o céu preto da necrópole. Não é bom pensar num xamã com olhos piedosos, mesmo que ele esteja como todos nós, forrado das doenças ocidentais.

Mas estamos todos no mesmo barco e a urgência existe. E o poeta se encontra em dificuldades, sem grana e sem pajé. Tem 73 anos e de um tempo pra cá começou a sofrer de mal de Parkinson. No dia 20 foi internado no Hospital das Clínicas de São Paulo e enfrenta o seu inferno dantesco. Ademir Assunção escreveu sobre ele no dia 22 e, pelo que eu soube, as coisas continuam na mesma. Ana Peluso me disse que estão tentando sensibilizar o governo para conseguir um lugar melhor, mas não há resposta. Como bem falou o Ademir, “artistas não vivem de elogios”. Ninguém, na verdade, convenhamos.

Roberto Piva lançou sua poesia reunida recentemente pela editora Globo e desde então voltou a ser falado e comentado, lido, ouvido, cinegrafado. Para quem quiser ouvi-lo mais, é na TV Cronópios. Você também consegue lê-lo na Revista Agulha, na Zona Branca-Espelunca do Ademir Assunção, na Germina Literatura e no google, quer dizer, no mundo. Quero que ele continue assim: no mundo. Não apenas em bytes, mas carne e osso. Quem também quiser, proponho manter-se informado sobre o melhor jeito de ajudar. Mãos à obra.

Aprovado o SIMPLES para a Cultura

Na primeira votação do Plenário nesta quarta-feira (16), 51 senadores aprovaram o chamado “Simples da Cultura”, projeto de lei complementar da Câmara (PLC 200/09), do deputado Antonio Carlos Mendes Thame (PSDB-SP) que inclui os produtores e as produções artísticas e culturais no sistema tributário denominado Simples Nacional. Pela medida, que precisa ser sancionada pelo presidente da República ainda este ano para surtir efeitos em 2010, os artistas e produtores de arte e cultura serão beneficiados com uma redução na alíquota de tributação de 18% para até 6%, segundo observou o senador Aloizio Mercadante (PT-SP).

A notícia é excelente. É raro ver os políticos percebendo o papel da cultura para o crescimento do país. A visão estreita dos políticos não os deixa perceber que, além de formar parte significativa da população brasileira, artistas e produtores culturais colaboram diretamente, e não apenas em patrimônio imaterial, para o desenvolvimento econômico do país. Segundo a senadora Ideli Salvatti (PT-SC), relatora da matéria, o setor artístico responde por pelo menos 5% do PIB.

para saber mais, clique aqui.

MIP2

Em 2009 o CEIA – Centro de Experimentação e Informação de Arte realizará a segunda edição da MIP. Nesta edição, o evento propõe leituras transversais entre a performance e outras linguagens artísticas como a dança, o teatro e a música com a proposta de não privilegiar apenas o olhar determinado pelas artes plásticas, mas de dar ênfase à diluição das fronteiras entre as várias linguagens artísticas. A programação inclui workshops, palestras e apresentações, com a participação de mais de 30 artistas locais, nacionais e internacionais.

MIP2 - Movimentação Internacional de Performance

2009 – Belo Horizonte, Brasil
de 20 a 31 de julho: workshops
de 03 a 09 de agosto: semana de apresentações, vídeo-performances e ciclo de palestras

AS INSCRIÇÕES PARA ESPAÇO ABERTO E WORKSHOPS FORAM PRORROGADAS: de 11 de maio a 15 de junho

Saiba mais nos endereços:

www.ceia.art.br
www.virgulaimagem.redezero.org

poro: radicalidade e delicadeza

grupo poro
proposição do poro para o vac

radicalidade = tomar as coisas pela raiz (k. marx)

o verão arte contemporânea este ano está inspirador. 2009 começa subversivo. nesta versão, o poro (composto pela dupla marcelo terça nada! e brígida campbell) participa com suas intervenções radical-delicadas. pequenas inserções de poesiarte em alguns cantos inesperados. um tropeço e você se depara com uma frase iluminada: “veja através”, “assista sua máquina de lavar como se fosse um vídeo”, e por aí vai.

ou então, numa parede inesperada na esquina da sua casa, dessas que você acostumou a ver descascar-se pela ação da natureza ou ficarem cobertas de pixações, você vê de repente uma série de azulejos daqueles que você já não vê desde a sua infância.

pequenas inserções de poesia no cotidiano que pouco a pouco vão reconstruindo o sentido da beleza na vida urbana. alguém ao meu lado me olha com olhar estranho e me faz a pergunta que me fazem sempre: “e isso é arte?”, ao que eu respondo sem palavras: “da mais fina que há”. eu acho que isso eu nem precisava falar, basta ver (mas acho que esse tipo de pergunta é daquelas que fazem um caboclo fingir que não entende o que está vendo). por isso a boca só diz: “e isso importa?”

veja o trabalho do poro no site: www.poro.redezero.org

Entrevista sobre WTC BABEL S. A.

foto: marcelo terça-nada!
foto: marcelo terça-nada!

Foi bacana o lançamento do livro, ontem. Pessoas que admiro vieram me ver falar o poema mais longo que já fiz, desde das infimidades. Para agradecer, coloco aqui uma entrevista comigo mesmo, respondendo algumas perguntas que me tem sido feitas por esses dias.

O que deu em você para escrever sobre geo-política?

Não escrevi sobre geopolítica. Meu poema é sobre a incomunicabilidade num mundo onde o capitalismo, com seus anúncios publicitários e os manipuladores meios de comunicação propagam o desentendimento, a superficialidade, o canibalismo psíquico. Através de um mecanismo sutil, mantém-se milhões de seres humanos na condição de robozinhos de controle remoto.

Não quero a geopolítica. Quero a geopoética. Devolver às palavras seu sentido integral, como queria confúcio.

Mas nada disso importa. Poesia é quando você precisa falar e não há outra forma de dizer aquilo que sentepensa, que feelthink. Mesmo que o que você disse diga: nada.

Você acha que as milhares de pessoas que morreram no WTC mereciam ter morrido ali? Você é a favor daquele acontecimento?

Alguém a não ser o George W. Bush acha isso? Se acha, é melhor vigiar essa pessoa. você conhece? É seu vizinho? Toma cuidado…

No fundo no fundo todos querem alcançar o céu?

Claro. É por isso que se constrói prédios. Um andar em cima do outro até que um dia ele chega lá. Deus não gosta muito disso. Já tentou até confundir, certa vez, uma turma de pedreiros fazendo com que eles não se entendessem. Cada um tenta à sua maneira. Tem uns que querem o nirvana. Tem quem queira o céu aqui. Tem quem queira achar um atalho. Mas no fundo no fundo, todo mundo. É o princípio do prazer, do Freud. Não venha me dizer que você não!?

Eu estava ouvindo sua gravação no MySpace e fiquei confuso. No texto que acompanha o livro, María José Pedraza Heredia fala que o poema é para ser gritado. Mas no MySpace parece que é uma versão sem grito, bem descafeinada. Como isso se dá?

O grito é dentro. “Meu sertão é metafísico”.

Você disse que esse poema já contém muito do seu projeto pessoal. Mas é inevitável achar ali um fundinho de Ginsberg e dos beats.

Gosto muito da poesia de Ginsberg, mais do que dos beats. E a pegada ginsberguiana combina com o tema, não acha? Em realidade, acho o WTC BABEL S. A. muito diferente de tudo o que Ginsberg faz, com outro ponto de vista e outro tipo de rebeldia. Mas me orgulho da referência. Aliás, não só Ginsberg, mas muitos outros poetas são homenageados e reverenciados no meu poema. A começar por Walt Whitman, que homenageio e critico ao mesmo tempo. Tem também o Antonin Artaud, que tem uma visão política que gosto muito e que, de certa forma, compartilho. E mais Maiakovski, Waly Salomão, os poetas do grupo poesia hoje (do qual participei entre 2004 e 2006). Renato Negrão, comentando comigo sobre o poema, me lembrava de algo que eu não tinha me dado conta. Ele me dizia: “tem muito de Marcelo Companheiro nesse poema. Coisa que só uma pessoa como eu, que já te conhece há anos consegue perceber”. Acho que o Renato foi modesto não citando a si mesmo como influência. Tem também o Chacal, o Fausto Fawcett, o Juan Gelman. E tudo está muito escancarado, com um verso ou uma palavra conhecida de cada um deles. Afinal, trata-se de uma grande colagem. São referências, mas na verdade o poema é a minha cara. Só espero que ninguém vicie. Acho que não encontrarão mais Ginsberg em outros trabalhos meus.

Agora temos Barack Obama no governo dos Estados Unidos. O que você pensa disso?

Eu acho maravilhoso. Felizmente, com o passar do tempo, as coisas mudam. Há muitas maneiras de se pensar a política hoje. E uma delas é do ponto de vista das relações interraciais. É claro que raça é um conceito falso, e por isso temos que ficar atentos com os limites dessa dicotomia (aliás, toda dicotomia é perigosa e limitada). Mas como diz o poema, “essa é a época dos presidentes pop”. Era injusto o páreo entre McCain e Obama. Obama é um sujeito bonito, elegante, diplomático, inteligente. Transformou-se muito rapidamente num ícone da esperança mundial. Um perfeito presidente pop. Eu, pessoalmente, penso que ele passaria facilmente por um parente meu. Me orgulho. Politicamente, restam ainda muitos pontos obscuros. A dicotomia democratas versus republicanos é inquietante pelo tamanho da sua limitação. O mínimo que espero de um republicano é que ele seja democrata e vice versa. Vejamos primeiro o que o novo presidente dos Estados Unidos fará com os seus 300 milhões de loucos de ficção científica.

A ciência parcial da palavra

O livro Com/posições de Juan Gelman, foi publicado em 2007 pela editora Crisálida, em tradução de Andityas Soares de Moura. Além dos poemas que Juan publicou sob esse título, o livro traz também uma entrevista que o poeta concedeu a mim e ao Andityas na ocasião do lançamento do livro Isso (no início de 2005), publicada originalmente no Suplemento Literário de Minas Gerais e disponível aqui no Salamalandro. Em setembro de 2006, no dia exato do lançamento de Com/posições, escrevi esse artigo que permaneceu inédito, mas que na minha opinião, passado todo o tempo que você pode contar, continua atual.

A ciência parcial da palavra

Leonardo Gonçalves

É possível que nunca o tema da Torre de Babel tenha surgido com tanta força como na atualidade. Vivemos num mundo onde as fronteiras não impedem o contato entre pessoas de diferentes nações e idiomas. A tecnologia digital nos possibilita uma aproximação que nenhum fabricante de lentes ou telefones jamais pôde supor. Essa proximidade tem algo de Babel, pois ao mesmo tempo em que se comunica, também se incomunica. E o próprio ato de comunicar-se, transforma-se facilmente em tormento, em desacerto, em erro.

Babel, de acordo com o Gênesis, significa “confusão”. O castigo para a audácia humana. A incomunicabilidade como punição para que o homem se disperse pelo mundo. No entanto, somos testemunhas de que a variedade lingüística não é empecilho para a comunicação. Os amantes, os internautas e os poetas sabem disto muito bem. E o contrário também acontece: pessoas de um mesmo idioma muitas vezes se compreendem mal. Os políticos, as famílias e muitos leitores de poesia conhecem isso de perto.

Se não é o idioma que separa a compreensão da incompreensão, haverá algo que o determine? Continue lendo A ciência parcial da palavra

o que dizia ginsberg em 1992

o poeta norte-americano allen ginsberg

os eua, que são só uma parte da américa, chegaram a um ponto violento em termos de consumo, arrogância e hipocrisia. a revolução high tech nos trouxe inúmeras doenças e problemas, como o aumento da temperatura devido aos buracos da camada de ozônio, criou inúmeras doenças pelo planeta, que hoje está com aids. estamos numa enrascada. eu usaria uma metáfora para explicar a situação em que estamos vivendo hoje: os eua são como um alcoólatra que acabou de encher a cara e está tomando outro drinque e fica acusando todo mundo de criticar seu vício. enquanto isso, a família e os outros fingem que não vêem, numa extrema negação da violência e do mal provocado por este indivíduo. o mesmo acontece com os meios de comunicação: eles tentam encobrir os estragos e negar o que está acontecendo. há uma atitude de recusa em ver a “coisa real” e é isso que esse triunfalismo e essa crise moral significam. você pode usar todas as palavras que têm alguma relação com o alcoolismo para explicar a situação atual: sentimentos reprimidos, negação, violência, decadência física e mental, vício, dano, co-dependência. Continue lendo o que dizia ginsberg em 1992