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Poro lança livro em BH

O lançamento acontece em dois lugares, dois momentos.

Dia 10/3/2011 (quinta-feira) 20h – Auditório da Escola Guignard
Bate papo com Brígida Campbell e Marcelo Terça-Nada!
Mediadora: Janaina Melo
Endereço Rua Ascânio Burlamarque, 540 Mangabeiras – Belo Horizonte – MG
Telefone: (31) 3194 9305

Dia 12/3/2011 (sábado) 15h – Praça do Bar do Orlando (Santa Tereza)
Festa na rua para celebrar a publicação + Banquinha do Poro (com distribuição de panfletos e venda de livros, dvds e bottoms “perca tempo”)
Os DJs Lucas Miranda (Oscilloid) e João Perdigão participam com uma palinha no som
Endereço: Rua Alvinópolis com Rua Dores do Indaía, Santa Tereza – Belo Horizonte – MG
Praça próxima à Parada do Cardoso e Bar do Orlando (Pescador)*Nas duas ocasiões o livro estará a venda pelo preço promocional de R$30,00

Mais informações no blogue do Poro:

www.poro.redezero.org

Dia 10/3/2011 (quinta-feira) 20h – Auditório da Escola Guignard
Bate papo com Brígida Campbell e Marcelo Terça-Nada!
Mediadora: Janaina Melo
Endereço Rua Ascânio Burlamarque, 540 Mangabeiras – Belo Horizonte – MG
Telefone: (31) 3194 9305

Dia 12/3/2011 (sábado) 15h – Praça do Bar do Orlando (Santa Tereza)
Festa na rua para celebrar a publicação + Banquinha do Poro (com distribuição de panfletos e venda de livros, dvds e bottoms “perca tempo”)
Os DJs Lucas Miranda (Oscilloid) e João Perdigão participam com uma palinha no som
Endereço: Rua Alvinópolis com Rua Dores do Indaía, Santa Tereza – Belo Horizonte – MG
Praça próxima à Parada do Cardoso e Bar do Orlando (Pescador)*Nas duas ocasiões o livro estará a venda pelo preço promocional de R$30,00

Ações poéticas do Poro

Intervalo, respiro, pequenos deslocamentos. Em edição bilíngue, o livro do Poro chegou desviando discurso. Premiado pelo Programa Brasil Arte Contemporânea da Fundação Bienal de São Paulo e Ministério da Cultura, é um trabalho belíssimo e de extremo cuidado com mínimas minúcias, cores, palavras, pixels. Organizado pelo Marcelo Terça-Nada e a Brígida Campbell, tem edição bilíngue (inglês-português) e traz textos de: Daniela Labra (pesquisadora e curadora – Rio de Janeiro), André Mesquita (pesquisador e ativista – São Paulo), Newton Goto (artista, pesquisador e curador – Curitiba), André Brasil (pesquisador da área de comunicação – Belo Horizonte) , Wellington Cançado & Renata Marquez (arquitetos, curadores e pesquisadores – Belo Horizonte), Anderson Almeida (escritor – Belo Horizonte), Luiz Carlos Garrocho & Daniel Toledo (pesquisadores e criadores cênicos – Belo Horizonte), Ricardo Aleixo (poeta, curador e ativista cultural – Belo Horizonte).

Para saber mais, clique no link:
www.poro.redezero.org/livro/

Howl (2010)

Para ler Allen Ginsberg, assim como William Burroughs e Lawrence Ferlinghetti, é preciso esquecer a geração beat. Perdemos muito tempo tentando entender o que foi o movimento poético-cultural datadíssimo que conquista seguidores anacrônicos em pleno século XXI. Tratá-lo como um beatnik é enfileirá-lo na prateleira das coisas domesticadas ou em vias de. Perde-se assim todo o poder operatório da sua linguagem. Não. Ginsberg é como Rimbaud. Sem labels. Deixe o uivo vibrar nos seus tímpanos primeiro. E depois veja o que acontece.

Estou dizendo isso como uma resposta ao apaixonado comentário do amigo Ricardo Domeneck, que transmitiu a notícia deste filme que eu desconhecia. Howl (2010), dirigido por Rob Epstein e Jeffrey Friedman. No papel de Allen Ginsberg, o ator James Franco interpreta incrivelmente o tom de voz e o estilo sarcástico-bem-humorado.

Poesia liberdade

O poeta mexicano Heriberto Yépez defendia, por volta do ano 2000, que fosse abolida a noção de literatura (já caduca) para colocar em seu lugar o “Decir” (Dizer). Gosto muito da crise que essa proposição provoca. “Por uma poética antes do paleolítico e depois da propaganda”, manifesto que aparece no livro de poemas que tem exatamente esse título, é um dos poucos escritos realmente revolucionários que li entre os poetas da minha geração. Só não concordo com o termo encontrado. Acho “Dizer” amplo demais, pode significar coisa demais, pouco específico. Aprendi com as yalorixás que é preciso dizer as palavras certas, caso se queira obter certo resultado.

Quanto a mim, prefiro um outro termo igualmente caduco e relaxado (por remeter a uma falsa idéia de beletrismo e bondade), porém mais específico: poesia. Poesia: elemento pulsante e vital de toda grande obra de arte, seja ela em versos, tinta, bytes, pedra, cores ou sons. Heriberto mesmo não descarta o termo. E fodam-se as especificidades disciplinares.

Mas aí, dizendo isso, me vem à cabeça o que dizia Artaud em 1944. “Revolta Contra a Poesia” é um texto cruel. “Nós nunca escrevemos sem a encarnação da alma, mas ela já estava pronta, e por nós mesmos, quando entramos na poesia. O poeta que escreve dirige-se ao Verbo e o Verbo às suas leis. Há, no inconsciente do poeta, a crença automática em suas leis. Ele se crê livre, mas não o é.” Artaud se dizia “contra a poesia dos poetas”. Ele via “não sei que operação de rapina, que autodevoração de rapina onde o poeta, se limitando ao objeto, se vê devorado por esse objeto”. Uma abjeta devoração de si mesmo. Artaud estava louco? Se estava, alguém me prenda por favor.

Evelyne Grossman, especialista em Artaud e sua biógrafa, mostra* que o missivista de Rodez queria era “não a poesia-objeto (de gozo, de consumo, de leitura… à distância), não a poesia que ele qualificava de “literária”, mas a poesia-força, encantamento, ritmo, “a poesia no espaço” (o que ele definia como teatro), o movimento das sílabas proferidas, expectoradas – os corpos animados por palavras”.

Muitas vezes, publicar um livro de poemas é mais uma questão de estômago. Aceitar ou não aceitar essa abjeta devoração de si mesmo. Há quem suporte. Poemas não são como ensaios acadêmicos: não precisam ser publicados para acontecer. Poetas são muito afoitos. Querem ver logo seus livros publicados, antes mesmo dos poemas existirem. Querem ser vistos, tidos e reconhecidos como poetas. Há inclusive os que estudam semióticas, cânones, linguagens. Mas não se preparam para preencher seus corpos e seus versos com os ritmos e sons gerados no big bang (no fundo todo poema é um big bang). E toda a ousadia que conseguem derramar em seus textos não passa de literatura. Milhares de livros de poesia publicados ao ano. Árvores cortadas em vão. Depósitos e mais depósitos amontoando papel inútil pintado com tinta. Lamentáveis gritos de autoestimas machucáveis. Anotações para diário inúteis para quem não nasceu dentro do corpo do autor.

Prefiro poesia. Não sei se escolho a palavra certa. Mas que importa o certo? Um bom romance muitas vezes é um bom poema. Vice-versa não. Ainda Artaud: “Quando recito um poema, não é para ser aplaudido mas para sentir corpos de homens e mulheres. Corpos, insisto. Vibrar e emanar em uníssono com o meu, emanar como se emana, da obtusa contemplação, do buda sentado, coxas instaladas e sexo gratuito, à alma, quer dizer, à materialização corporal e real de um ser integral de poesia”**.

* no prefácio à edição francesa de Pour en finir avec le jugement de dieu.
** citação de uma carta a Henri Parisot, datada de 6 de outurbro de 1945 e incluída no mesmo prefácio de Evelyne Grossman.

Poesia como arte insurgente

Acabo de ler um great little book. Poetry as Insurgent Art, de Lawrence Ferlinghetti, é um desses livrinhos para se colocar ao lado do travesseiro e ler uma frase por noite. Ou então, das famosas “obras para obrar” deixadas no banheiro no lugar das revistas de fofoca, esperando aquele momento mais íntimo dos seres humanos civilizados. Frases curtas e espertas. Pequenos instantes de veneno anti-mediocridade.

Há muito tempo que eu ensaiava um meio de tê-lo em mãos. Havia visto no site da editora City Lights em 2008 e, desde então, venho tentando imaginar o que o velho Ferlinghetti anda aprontando. A proposta Poesia como arte insurgente é sonhadora para esses tempos em que a linguagem anda sumindo. Estava super afim e pensava em pedir via internet. Outro dia, passando por uma livraria de São Paulo, o encontrei e fiquei tremendo como um viciado com a vontade de adquirir meu exemplar.

Segundo os editores, Ferlinghetti tem certa aversão a tratados de poética. No entanto, este livro vem sendo escrito e reescrito ao longo dos últimos 60 anos, em sucessivas edições recheadas de acréscimos. Já teve também outros nomes. What is Poetry é o título anterior. Contém formulações de quem, ao longo do tempo, vem mantendo uma permanente confiança no poder das palavras e da poesia enquanto vida e subversão. Uma ideia fora de moda e atualíssima ao mesmo tempo. Coincide com questões que andam em pauta no Brasil e no mundo.

Veja-se por exemplo a exortação “Don’t make poetry by the Pound”, dificílima de traduzir sem variantes para o português, podendo significar “Não faça poesia pelo Peso”, em primeira instância. E na sequência: “Não faça poesia pelo dinheiro” (Pound esterling, a moeda inglesa). E por último: “Não faça poesia pelo Pound”. Quem leu meu artigo “Para acabar com o juízo dos críticos” sabe do que estou falando. Para o ambiente brasileiro, com seus poetas literatureiros, tem também esta: “Compose on the tongue, not on the page” [Componha na língua, não na página]. E: “Poetry is the real subject of great prose” [Poesia é o verdadeiro assunto da grande prosa]. E ainda: “Be a songbird, not a parrot” [Seja um passarinho cantador, não um papagaio].

Lawrence Ferlinghetti é um dos poucos poetas do mundo contemporâneo (talvez eu devesse dizer: do “meu” mundo contemporâneo, já que não conheço todo o mundo contemporâneo) a se interessar pela dimensão micropolítica da linguagem e explorá-la em sua obra. Suas idéias coincidem com as minhas mais recentes concepções sobre poesia. Veja-se a exemplo o aforismo-notícia que está na página 59 do livreto: “The war against the imagination is not the only war. Using the 9/11 Twin Towers disaster as an excuse, America has initiated the Third World War, which is the War against the Third World. [A guerra contra a imaginação não é a única guerra. Usando o desastre das Torres Gêmeas do onze de setembro como desculpa, os Estados Unidos iniciaram a Terceira Guerra Mundial, que é a Guerra contra o Terceiro Mundo]”.

Para os que não conhecem Ferlinghetti, ele é o autor de Um parque de diversões na cabeça, que foi reeditado recentemente pela LPM, na coleção pocket. No Brasil ele foi traduzido por poetas como Paulo Leminski, Leonardo Fróes e Nelson Ascher. É um dos poucos sobreviventes da geração beatnik no século XXI. Segundo Claudio Willer (em seu recente livro Geração beat): Ferlinghetti nasceu em Nova York em 1919, filho de um imigrante italiano e criado em Strasbourg, na França. Escrevia desde muito jovem, antes mesmo de servir ao exército americano. Participou da segunda guerra mundial como oficial da marinha, o que consolidou suas convicções pacifistas (Dare to be a non- violent poetic guerrilla, na anti-hero [Ouse ser um guerrilheiro poético da não-violência, um anti-herói]). Estudou em Columbia e na Sorbonne e, ao voltar para os EUA, fundou a editora City Lights no começo dos anos 1950. Publicou, entre muitos, Antonin Artaud e Jacques Prévert. Foi o editor da primeira edição do Howl de Allen Ginsberg (aquele poema que não precisou ser publicado para ser preso pela moral e os bons costumes norteamericanos). Sua editora é ainda hoje uma das forças que mantêm a inteligência ativa no país dos Walt: Whitman e Disney.

The Nort Pole is not where it uset to be. O Polo Norte não está mais onde costumava estar.

If you would be a poet, create works capable of answering the challenge of apocalyptic times, even if this means sounding apocalyptic. Se você quer ser um poeta, crie obras capazes de responder aos desafios dos tempos apocalípticos, mesmo se isso soar apocalíptico.

If you call yourself a poet, don’t just sit there. Poetry is not a sedentary occupation, not a “take your seat” practice. Stand up and let them have it. Se você se diz poeta, não sente-se simplesmente ali. Poesia não é uma ocupação sedentária, não é uma prática de “tomem os seus assentos”. Levante-se e deixe que os outros façam isso.

If you would be a poet, invent a new language anyone can understand. Se você quer ser um poeta, invente uma nova língua que qualquer um possa entender.

If you would be a poet, speak new thruths that the world can’t deny. Se você quer ser um poeta, diga novas verdades que o mundo não possa negar.

Reinvent the idea of thruth. Reinvente a idéia de verdade.

Unless you have an urge to sing, don’t open your mouth. A menos que tenha uma urgência de cantar, não abra a sua boca.

Make it more than “spoken word” poetry; make it “sung word” poetry. Faça mais do que poesia palavra falada; faça-a uma poesia palavra cantada.

Like a field of sunflowers, a poem should not have to be explained. Como um campo de girassóis, um poema não pode precisar ser explicado.

Don’t be so open-minded that your brains fall out. Não tenha a cabeça tão aberta a ponto de seu cérebro cair.

If a poem has to be explicated, it’s a failure in communication. Se um poema tem que ser explicado, há um falha de comunicação.

Whatever a poet says about his work is an apology he shouldn’t make. O que quer que um poeta diga sobre sua obra é um pedido de desculpas que ele não deveria fazer.

Art is not Chance. Chance is not art, except by chance. Arte não é Acaso. Acaso não é arte, exceto por acaso.

Cultivate dissidence and critical thinking. First thought may be worst thought. Cultive a dissidência e o pensamento crítico. Primeira idéia pode ser a pior idéia.

Resist much, obey less. Resista mais, obedeça menos.

Poetry is all things born with wings that sing. Poesia é todas as coisas nascidas com asas que cantam.

Don’t let them tell you poetry is for the birds. Não deixem dizerem que a sua poesia é para os passarinhos.

Don’t ever believe poetry is irrelevant in dark times. Jamais acredite que poesia é irrelevante em tempo escuros.

Don’t let them tell you poets are parasiti. Não deixe dizerem que vocês poetas são parasitas.

The poet sees eternity in the mute eyes of all animals, including men and women. O poeta vê a eternidade nos olhos mudos de todos os animais, incluindo homens e mulheres.

Poetry a naked woman, a naked man, and the distance between them. Poesia uma mulher nua, um homem nu, e a distância entre eles.

Poetry is not all heroin horses and Rimbaud. It is also the powerless prayers of airline passengers fastening their seatbelts for the final descent. Poesia não é só cavalos de heroína e Rimbaud. É também os passageiros sem poder das linhas aéreas fazendo orações ao colocar os cintos de segurança para a derradeira descida.

Vídeo documentário sobre o Poro

Ações efêmeras. Ou seja, ações sutis. Delicadas ações que podem passar desapercebidas. “A pessoa bruta não liga pra nuance das coisas” (mautner). Pequenas doses de beleza em paredes, em folhas, enxurradas. Desde 2002 inventando intervenções nos espaços públicos, o Poro acaba de lançar o seu primeiro documentário. Produzido em parceria com a Rede Jovem de Cidadania, o filme de 22 minutos mostra várias das principais ações que o Poro vem desenvolvendo nos últimos 8 anos.

Para saber mais, é no blogue oficial do poro:
http://poro.redezero.org/video/documentario/

MIP2 – Sobreabismos

 

viaduto santa tereza

Quem já ouviu falar do viaduto Santa Tereza, pode pensar que se trata de uma obra prima da construção civil. Mas não é. É apenas um dos muitos lugares inóspitos da cidade, construído originalmente para a travessia de carros e pedestres. Não é longo: caminhando com calma, pode-se atravessá-lo em 10 minutos. Seus famosos arcos e os postes antigos que o iluminam dão-lhe um ar pitoresco, e pode ser animado pela imensa faixa de céu que se abre acima, o sol que se esconde à esquerda, atrás da praça da estação, e a feia linha do metrô que passa por baixo. Também passa embaixo o rio Arrudas que, de tão feio e fedorento, foi coberto de cimento e asfalto. Olhando na extremidade que está conectada ao centro, vemos muitos prédios. E por todos os lados, asfalto e tráfego. Embora por ali passe sempre muita gente, sua função é a de unir os bairros da região leste de Belo Horizonte ao centro, garantindo o tráfego funcional do município.

A proposição se chama Sobreabismos. Duas bacias dispostas lado a lado em cada extremidade da calçada direita. Em uma delas, água. Na outra, uma combinação de pigmentos que lembram algum minério extraído das minas gerais. A performer Cinthia Mendonça pisa na bacia com água, molha bem os pés descalços e depois se deixa sujar com o pó amarelo-avermelhado da outra bacia. Segue então seus passos até o outro lado da ponte. O trabalho, que faz parte da programação da MIP2 (Movimentação Internacional de Performance), teve seu início na sexta-feira, dia 07 de agosto às 14h e foi até o pôr do sol. No percurso, observações, contatos humanos, encontros previsíveis e imprevisíveis, diálogos, descobertas, um rastro colorido no chão e a teimosa vontade da artista de ser elo entre os dois lados do incontornável precipício que habita o indivíduo da cidade grande.

Às 16:30, começa outra performance, desta vez na praça da estação. Durante duas horas e meia, o grupo Xepa realiza a Edificação: muros construídos com tijolos limpos cor laranja. Os tijolos, encaixados um por um pelos performers, não levam cimento e são colocados num ângulo levemente deslocado até o ponto de cair. Por alguns instantes, a simbologia de dureza e rigidez é forçada ao ponto de tornar-se movimento. O resultado final é um conjunto de esculturas-instalações que fazem da cinzenta praça um lugar apocalíptico e colorido por onde o passante pode sentir que está ou entre barricadas ou no meio de um quadro surrealista. Infelizmente, por questão de tempo, só pude ver esse trabalho no momento em que os realizadores já não estavam presentes. Mas, enquanto passava por ali, por volta das 19h, por entre as muretas caídas e abandonadas, ainda pairavam no ar algumas reflexões.

A palestrante portuguesa Suzana Vaz, comentou a idéia de Joseph Beuys de que “todas as pessoas são artistas” para concluir algo mais ou menos assim: “Quanto a mim, acho que a maioria das pessoas atualmente sofre de uma certa normalpatia que as leva a não entender nada que não caiba nos moldes do sistema consumista. É claro que essa minha opinião não está livre de discordâncias, mas assim é como eu vejo”.

Em Belo Horizonte, nesta época do ano, o sol se põe antes das 18h. Nesse horário, o centro está repleto de pessoas que vão e vêm em busca das conduções que as levarão de volta para casa. Na praça da estação, especialmente, há muitos pontos de ônibus que levam até os bairros mais periféricos da cidade. É realmente um grande e rápido fluxo de gente. E, exatamente por esta razão, uma operadora de telefonia móvel resolveu instalar ali um ruidoso balão dirigível vermelho com a notícia de sua mais nova promoção, eclipsando as Edificações do Xepa. E, enquanto eu caminhava pela populosa praça, onde as pessoas não podiam deixar de olhar para o imenso outdoor que a todo momento ameaçava alçar vôo, eu sentia a melancolia de quem anda sobre abismos. Os mesmos e incontornáveis abismos que distanciam de ações propositivas como estas e muitas outras que participam da MIP2, as imensas procissões cotidianas do consumismo e da normalpatia.